domingo, 22 de junho de 2008

O VAIVÉM DA ORTOGRAFIA

Francisco Miguel de Moura*


Ortografia é matéria de lei a que toda a população de um país ou de uma Comunidade de Países se obriga a cumprir. E é por depender da política e do poder que as formas ortográficas mudaram muito ao longo de nossa história.

Agora mesmo, assinado em Lisboa, em 1990, o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi ratificado pelo Brasil e entrará em vigor a partir do 1º de janeiro de 2009, segundo o assessor especial do Ministério da Educação do Brasil, Sr. Carlos Alberto Xavier.

Matéria recente sobre as mudanças dá conta de como elas afetarão os estudantes desde o primeiro grau à Universidade, assim como os escritores, advogados, tabeliães, funcionários públicos e todos os que trabalham com a escrita, seja oficial ou particular. Já disse anteriormente e repito agora: – Quem aprendeu a pronunciar bem as palavras não necessita de acentos para escrevê-las corretamente. Mesmo na língua portuguesa e assim em todas as neolatinas. Quem sabe falar a palavra Paraguassu, por exemplo, não pergunta se a última sílaba é mais forte, se leva sinal diacrítico ou não, salvo se está estudando gramática com vistas à ortografia.

É bom saber que a nova reforma a ser implantada de 2009 a 2012, no chamado “período de transição”, conviverá com as regras da gramática tradicional e que são poucas e facilmente digeríveis as modificações ora aprovadas, resumindo-se no que enumeramos:

1 – Não será mais usado o acento agudo em palavras com terminação “eia” e “oia” – como exemplificariam ideia, jiboia;

2 – não será mais usado o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou no subjuntivo dos verbos “ver, ler, dar, crer” – como exemplificariam veem, leem, deem, creem; também o mesmo acento circunflexo será eliminado das palavras voo, enjoo;

3 – deixará de existir o trema, a não ser em nomes próprios;

4 –fica estabelecido que o hífen deixa de existir quando o segundo elemento da palavra começa com “r” ou “s”, passando essas letras a serem dobradas – tal como em contrarregra, contrassenso;

5 – não se usará o hífen quando o primeiro elemento do vocábulo termina com vogal diferente da que começa o segundo – tal como em autoestrada.

Estas modificações são necessárias e creio que muito mais urgentes do que os legisladores supuseram. Mas outras deveriam ter sido acrescentadas. Por exemplo: as palavras paroxítonas da língua portuguesa não levarão nenhum acento. Minha proposição é justamente porque a maioria das palavras de nossa língua é paroxítona, formando o fundo léxico central e o mais praticado e pronunciado corretamente. Exemplos poderiam ser apontados às carradas. Para que acento nos vocábulos possível, hífen, açúcar, tórax, colégio, juízo, saúde? Talvez fossem exceções à regra: órfão, táxi, Vênus, álbum.

Quero dizer, então, que o terceiro Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, entre os países que a têm como língua comum, sai tarde e incompleto. Os dois primeiros ocorreram em 1943 e 1971, sem que os países-membros da Comunidade sequer os houvessem colocado corretamente em prática, de modo especial Portugal e o Brasil. Será que este terá o mesmo fim? Tomara que não.

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Francisco Miguel de Moura- Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, mora em Teresina, Piauí. E-mail:

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