sábado, 12 de julho de 2008

O NEGÓCIO É FICAR


Antônio Carlos Fernandes da Silva*


Ficar é o novo lance do jovem de hoje. Ninguém vem mais para ficar, mas apenas para ficar... logo em seguida, vazar. Em geral, para sempre. São hábitos e costumes de uma geração de muita liberdade e poucos limites, que tem como base forte de sua formação, não mais a escola ou a família, mas a televisão, os amigos, a internet, as novelas, o celular.

A vida é dinâmica, os costumes estão sempre se renovando, os conceitos e preconceitos acompanham as mudanças naturais da vida e da natureza humana. Ser jovem é ser atual, é ser de hoje. Não posso condenar o ficar do jovem e não tenho dúvida de que deve até ser gostoso ficar, ficar e ficar, mas nem tudo que é gostoso também é bom ou saudável ou recomendável.

Pelo que pude entender, ficar é beijar muuuuuuuiiito e muitas garotas, muitos garotos, numa mesma balada, numa noitada e depois, geralmente, descartar. Ou descartarem-se. Quanto mais beijos por noitada, mais vitória e aventura cada jovem contabiliza no livro do seu ego e, como troféu, ostenta aos amigos uma relação de três, sete, treze “ficantes” por evento.

Ninguém ousaria condenar o amasso, o afeto, o encontro, muito menos o beijo. Mas o ficar, onde bocas se dispõem abertas à espera de um jovem qualquer que lhe venha depositar mais diversidade de salivas desconhecidas, amargas, estranhas no ninho, sem muito papo, sem nenhum sentimento, nem pejo, nem cuidados com a imagem e/ou o sentimento um do outro, do outro que, geralmente, nem conhece?....

Parece a banalização do beijo: um dos afetos mais íntimos e envolventes entre os seres. Parece o empobrecimento do ser humano, a desvalorização do companheirismo e de outro sentimento que faz nascer num casal uma troca de entrega, uma confiança mútua e um desejo de ficarem juntos para sempre, que é o amor.

Costumo observar casais de pombos nas praças beijando-se apaixonadamente. Em volta da sua companheira, o pombo faz um ritual tão reverenciado que a pomba responde com o arrepio das suas penas e seu arrulho sussurrante. Se o homem não enviuvar um dos dois, eles continuarão assim até o final de suas vidas.

Criado à imagem e semelhança de Deus, o ser humano merece mais cuidado e respeito entre si. Nascemos para nos amarmos uns aos outros. Não para nos usarmos um ao outro.

Acredito que o beijar bem, o papo bem centrado, bem entrosado e interessante, as carícias desejadas, tudo o que o jovem busca avidamente não se encontra no ficar, mas no amar, que é saudável, que não é efêmero, que não é mundano, é divino mesmo. Pois no amar pressupõe-se o aplauso de Deus.

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*Antônio C. Fernandes da Silva, professor, poeta, escritor E-mail: ancarfes@yahoo.com.br.

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