quinta-feira, 13 de agosto de 2009

EUCLIDES DA CUNHA (1866-1909)


Francisco Miguel de Moura*


Nós brasileiros merecemos das entidades ligadas à cultura e à literatura, com apoio do próprio governo, a divulgação da obra do grande mestre e fundador da Academia Brasileira de Letras, Machado de Assis, no ano de 2008. Mais do que necessárias e justas foram estas homenagens. Neste 2009, está acontecendo o mesmo com relação a Euclides da Cunha, o inolvidável autor de “Os Sertões”, livro que eu diria seminal dos estudos da sociedade brasileira nos momentos de suas manifestações mais agudas, mais cruciantes. Este é o ano de Euclides, como o ano passado foi de Machado de Assis.

Nossa Academia (APL), no dia 8 do corrente, antecipando um pouco a data (15 de agosto) do falecimento do escritor homenageado, também celebrou o ano do professor, sociólogo, repórter jornalista, engenheiro e escritor Euclides da Cunha, com uma conferência proferida pelo escritor e acadêmico Dagoberto Carvalho. A seguir houve um debate comandado pelo Prof. Paulo Nunes, sendo debatedores Celso Barros Coelho, Francisco Miguel de Moura e Oton Lustosa, todos acadêmicos e escritores, sob o comando do Presidente da APL, Des. Manfredi Cerqueira.


Por minha parte, durante cerca de 5 minutos, falei algumas coisas objetivas, uma das quais foi a questão de “Os Sertões” como romance, referida pelo conferencista do dia, o que, aliás, eu já havia manifestado quando compunha “Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho”, em 1972. A emoção que se sente ao ler o livro mor de Euclides é diferente da comum aos demais romances, visto que a tragédia foi real e se deu entre o Estado prepotente, enfrentando um pequeno grupo de matutos sem letras, místicos sem armas, maltrapilhos e famintos, no fundo dos sertões da Bahia. Foi uma guerra, a de Canudos, que não teve vencedor. A lógica diz que se não há vencidos, não há vencedores. E de Canudos não restou ninguém, salvo as caveiras insepultas dos que foram barbaramente mortos ali. Até então, uma tragédia inédita na história.


Na primeira parte do livro, quando Euclides descreve a terra, carregando nas tintas da crueza e do abandono, certamente o seu estilo parece um cipoal de vocábulos e frases desconhecidos ou desusados até então pelos homens da burguesia mandante e sanguinária. Daí ter o crítico Carlos de Laet classificado como “estilo de cipó” aquela maravilha de descrições e observações de Euclides. Aproveitando a ocasião, repeti, referindo-me às palavras do Prof. Paulo Nunes:


- Euclides nos pega primeiramente pelo estilo, assim como os cipós pegam os homens quando viajam pelo mato (como vaqueiros) ou mesmo pelas estradas mal abertas. Os cipós pegam-nos e nos levam ao chão. Só assim vamos conhecer onde pisamos. Estilo de cipó, para quem conhece a região descrita, foi um elogio. É um elogio a Euclides da Cunha.


“Os Sertões” foi o primeiro grande livro que li, aos vinte anos. E foi uma felicidade. A ele voltei para a segunda leitura e depois para as pesquisas. Quem não leu Euclides da Cunha não conhece o Brasil.



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*Francisco Miguel de Moura, escritor e poeta brasileiro, membro da Associação Internacional de Escritores e Artistas (IWA - Estados Unidos)

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