quinta-feira, 19 de novembro de 2009

BAÚ LITERÁRIO


Discussões entre dois sacerdotes católicos
e dois jovens na procura de Deus nos anos de 1960





Hélio Moreira*





Li, com muito prazer, os textos publicados semanalmente no Diário da Manhã, pelo meu confrade da Academia Goiana de Letras Dr. Alaor Barbosa, intitulados “Conversando com Frei Thomas Cardonnel”.


Qualquer um ficaria, logicamente me incluo neste rol, honrado de pertencer ao mesmo sodalício que este notável homem de letras, cuja produção literária ultrapassou os limites do Brasil e agora é editado em Portugal, onde acaba de ser premiado.

No texto do dia 30 de setembro, Alaor faz algumas introspecções que definem a sua formação filosófica, pelo menos naquela quadra da sua existência (anos de 1960); não sei se ele permanece com o mesmo cepticismo com respeito à existência de Deus; provavelmente tenha mudado de opinião, pelo que pude perceber nas entrelinhas do rodapé do texto, onde ele faz questão de assinalar duas datas distintas (Morrinhos, julho e dezembro de 1966 e Brasília e Goiânia, outubro de 2009) assinalando, com este detalhe, dois períodos distintos da sua vida.

Chama a atenção, também, o fato de ele conjugar o verbo no passado (...minha falta de sentimento de Deus eram sérios e profundos; ...eu era filosoficamente impermeável à idéia de Deus; ...eu considerava Deus uma idéia absurda...)

Alaor e eu, ambos em plena juventude, vivemos um dos momentos mais conturbados do século XX (anos de 1950 e 1960), época em que fomos envolvidos por um torvelinho de acontecimentos sociais que dividia o mundo em duas correntes distintas: socialismo e capitalismo.

Embarcamos, eu especialmente, já que não posso falar por ele, na nau das ilusões pregadas pelos construtores de um mundo novo; achávamos que poderíamos mudar o ritmo da história, criando uma nova sociedade igualitária, espelhada no apregoado sucesso do regime Soviético.

Também eu tive um Frei com quem conversar, chamava-se Padre Gustavo Pereira, sacerdote e médico que morava na nossa Casa do Estudante Universitário do Paraná, local onde residi por seis anos (Entre o Sonho e a realidade, Brasil dos anos 60 e Rússia dos anos 90, Ed. Kelps, 2001, Goiânia).

Tive, também, minha fé abalada pelo proselitismo marxista; meu único contraponto confiável era o Padre Gustavo que me repetia o que dizia o escritor Henri Chambre no seu livro Le Marxismo en Union Soviétique, 1955: “Hoje, como ontem, o marxismo leninista desencadeia a mesma luta ativa contra Deus e tudo que possa lembrar ao homem a existência de Deus”, ou Hans Driesch no A Superação do Materialismo, 1935: “O materialismo, como ensaio de uma explicação científica do mundo, fracassou completamente”.

Posso afirmar, com absoluta convicção, insistia Padre Pereira, “não é possível conciliar o Cristianismo com o socialismo, dia virá e você ainda verá, que a máscara vai cair e então iremos repetir uma imagem criada por Nietzche: Passeia-se, sem a menor cautela, por sobre o gelo, embora já sopre o vento da primavera e a fina camada esteja prestes a quebrar”, a crença religiosa é antagônica da dialética marxista; o ateísmo, na pregação do próprio Lênin, é o ponto culminante, a pedra de toque para a procura da perfeição do provável regime dos sonhos.

É enganoso, continuava ele, discutir o marxismo como mera doutrina econômico-social, lembre-se do que dizia Karl Marx “A profunda Alemanha não pode fazer a revolução sem fazê-la pela raiz; a cabeça da emancipação do homem é a filosofia marxista” (O Ateísmo Moderno, Georg Siegmund, Ed. Loyola, 1966).

Seria o marxismo uma simples filosofia? Lembro que indaguei ao Padre Pereira, após ouvir esta citação de Marx que ele fez; não, não é, o que levou o bolchevismo à vitória na Rússia, foram as energias de uma crença messiânica do povo soviético que julgava encontrar neste movimento a realização de suas aspirações seculares, uma saída libertadora, o encontro de um reino de Deus aqui na terra, como lhes era apregoado.

Hoje, vivendo na planície da vida, penso que esta fé tão simplista para alcançar suas realizações, não levou em consideração o fato de que a “roda” da historia gira, colocando em cima o que estava em baixo e o que estava em baixo em cima.

Depois de mais de cinqüenta anos de regime materialista, pude observar, na viagem que fiz à Rússia em 1990 que a religiosidade e a fé na salvação eterna não haviam acabado, e, sobretudo, a afirmação de que a religião havia envelhecido e morrido na alma do povo russo, estava errada, apenas estava adormecida!

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*Hélio Moreira, escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

Um comentário:

Alexandre da Fonseca disse...

BOA TARDE!! LINDO BLOG, SUCESSO E MUITA PAZ...BJS

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