segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

ABAIXO TODAS AS DROGAS!

Francisco Miguel de Moura
Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras


    O fumo é uma droga perigosa. A única vantagem dele sobre as outras é que não era proibido por lei. Não era. Agora é. Aliás, há alguns anos fumar era chique, elegante, bo¬nito. Eu mesmo, quando tinha meus dezoito, adotei o cigarro. O efeito social projetava o ser fumante. Hoje mudou de figura. Mas nem tanto. Continuam fumando por aí.
    Creio, pois, que os não fumantes (eu sou um deles) deveriam ter mais energia e requerer frequentemente os seus direitos de não fumantes. Afinal de contas, ninguém é dono do ar, cada um tem o seu quinhão, e não tem direito de sujar o quinhão do outro. A poluição deve ser um crime imediatamente punido com multa, mais a expulsão do poluidor do ambiente, se não com outros castigos mais rigorosos. Por exemplo: deve se motivo para requerimento de separação entre os casais, se um cônjuge fuma e o outro, não.
    Mas o que me move a lembrar isto é o eufemismo da tevê (um serviço público adquirido por empresas particulares, privadas, por concessão do Governo), depois da propaganda de cigarros por artistas de renome, com enorme e colorido filme da marca e da companhia que o industrializava e vendia, ao lado e de modo quase ilegível sugeria os efeitos danosos da nicotina (câncer, doenças do coração, do pulmão entre outras).  Que eufumismo! Esse mesmo eufemismo continua, hoje, com relação ao álcool: “Se beber, não dirija. Se for dirigir, não beba.” É que o álcool continua sendo livre, mas é uma droga bastante perigosa, como as demais (maconha, craque, cocaína, etc.) Multar os motoristas que, não obstante as advertências, continuam dirigindo bêbados ou tomando drogas pesadas, não resolve. Quantas mortes de inocentes, gente que não tem nem nunca teve culpa das infrações no trânsito, continuam acontecendo e alimentando as altas de taxas de mortalidade!?
          Com relação à maconha, acontece outro fenômeno que seria engraçado se não fosse triste: Há médicos que têm a opinião da liberação da maconha simplesmente porque ela tem certo poder de melhorar certos pacientes de determinado tipo de câncer. Nada comprovado, nenhum medicamento criado para tal fim, etc. Em resumo: Maconha pode ser consumida por alguns pacientes de câncer, o tabaco fica totalmente proibido. Obriga-se um fumante (tabaco) deixar o vício e permite-se outro fumante (maconha) faça uso da droga. Daí, então, seria muito difícil distinguir o tabaqueiro do maconheiro.
    Quando, para alguns amigos irritados com os traficantes e viciados, eu dizia no passado recente, que o único meio de liquidar com a droga seria legalizá-la, tal qual o fumo e o álcool, quando eu afirmava isto é porque estava desesperado mais do que eles. O tempo foi passando, o uso das drogas só aumentou, e a gente passa a ter conhecimentos que nenhum dos dois caminhos é eficiente para combatê-las, seja liberando-as, seja proibindo-as: as experiências de outros países, sem resultado.
         Eis que, assim, o impasse continua.
    Porém, como o assunto me inquieta, fico a fazer perguntas aos outros e a mim mesmo, e chego à conclusão de que a droga existe como mercadoria e se institui em comércio porque há usuários. Sem procura não se produz, não se vende nada em termos de mercado, de ganho. Assim, a raiz do mal está no consumidor. E o consumidor só deixará de querê-la através da educação como prevenção e tratamento aos já viciados. Assim, o que os governos têm que fazer é investir maciçamente na instrução e educação do povo – escolas, boas escolas; divertimentos – bons divertimentos; esporte sadio e muito esporte. Ao lado desse programa em longo prazo, é claro, não deve amenizar a repressão aos casos que levam o viciado ao mal-estar social e ao crime. Com a repressão dentro das leis, providência em curto prazo, haverá tempo para, dentro de 20 a 30 anos, toda uma geração, de colocar o terrível mal em nível razoável.
Vamos, pois, deixar de eufumismos e eufemismos. Abaixo as drogas!

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