domingo, 1 de julho de 2012

DEPOIS DE TUDO... O QUE SOMOS?


Francisco Miguel de Moura*

Euclides da Cunha escreveu uma frase monumental em “Os Sertões”, por isto poderíamos dizer que é eterna: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. “Antes”, bem podia ser. Acontece que, praticamente já não há mais o sertanejo-personagem de “Os Sertões”. A “raça” está praticamente extinta, absorvida pelos citadinos... Aqueles correram para cidade, em busca da televisão e de outras atrações que só existiam na cidade. Os governos brasileiros do passado, a partir Washington Luís, para quem “governar é fazer estradas”, abriram os caminhos (estradas). Não só para as capitais, mas para quase todas as pequenas cidades e vilarejos. Por aí, o “sertanejo” segue em busca de escolas e melhores meios de abastecimento, saúde e comunicação de todas as formas, as quais lhe propicie boa vida. Literalmente, a população interiorana correu para a cidade. Aqui, certamente, será visto, nem que seja apenas na hora do voto.
Nossas cidades cresceram (desordenadamente) e o campo estreitou-se. A zona rural já não existe como antigamente. Com eletricidade, televisão, rádio, carros, instrumentos agrícolas e domésticos sofisticados, para alívio do braço do agricultor e da dona de casa, as fazendas que podem produzir mais e se manterem com as rendas, estas - poucas - ficaram. As demais viraram “capoeiras”. As pessoas que não pensam nisto, ainda acreditam nas delícias da roça e dizem: “Vou tirar umas férias, não agüento mais essa zoada da cidade, de dia e de noite... Se a música fosse menos barulhenta!...” Fico pensando: “Estão redondamente enganados”. Os agricultores e criadores ricos adquiriram instrumentos e têm com que resolver os problemas com pouca mão-de-obra, ou seja, com trabalhadores qualificados. Os pobres (coitados!) deixaram suas lavouras de subsistência e estão todos na cidade, onde recebem bolsa família, bolsa escola e outras bolsas do governo. Aqui, os filhos vão estudar e ter melhor condição de vida. Mas, as escolas fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem, o que é lastimável. Sem contar o tipo de moradia que esses recém-chegados conseguem: nos bairros longínquos, sem condução suficiente, sem condições sanitárias, expostos à dengue e outras pragas. Porém, ficam satisfeitos com a “cestinha”, a tevê e a promessa dos políticos desavergonhados e viciados na compra do voto – políticos aliados com jogadores e traficantes de drogas de todos os tipos. (Lembremos que, no momento, estão lidando com o caso do Carlinhos Cachoeira, que veio à tona).
E a vida na cidade é assim: shoppings, restaurantes, bares, boates, cabarés, comprinhas no Centro às vezes (no mercado da classe média e pobre), uma viajinha ou outra nos feriados prolongados. É a rotina. Rotina de tevê, internet, futebol. Ninguém mais lê, as livrarias vivem com a venda de papel e outros instrumentos para escritórios: - são simples papelarias.
Assim, nosso país chegará ao “quase-nada”. Sem prêmios nobéis de ciência, de literatura, medicina, química, física; sem engenheiros... E sem grandes cineastas, atores no teatro, escritores, inventores, professores ganhando bem e escolas (especialmente as públicas) bem equipadas, que valham a pena serem chamadas de escola, ficaremos sendo um paísinho da América Latina, sem projeção, sem riqueza. Na verdade, do meado de séc. XX aos nossos dias, o Brasil não cresceu. O que cresceu foi a população. A distribuição da renda continua a mesma. Onde já se viu tornar um país rico com esmolas? Bolsa família e todas as bolsas que se inventaram nos últimos governos são esmolas. Onde já se viu um país tornar-se potência, abrigado em leis casuísticas, feitas para proteger quem as faz, e leis descumpridas a toda hora, porque permissivas e lenientes? Citem-se a “Lei Seca”, a “Lei da Ficha Limpa”, a “Lei da Palmadinha” e tantas outras. Indústria, ciência e cultura é que fazem qualquer país crescer. Com grandes universidades, além da expansão da escola fundamental e média a todos, mas com qualidade, aí, sim, poderíamos parafrasear Euclides da Cunha com a seguinte expressão: - “Depois de tudo, o brasileiro é um forte!”.
Entrementes, prefiro dizer que ainda somos “o país dos coitadinhos”, frase com que titulou seu livro o escritor Emil Farhat, famoso sucesso nos anos 1960. Intriga-me não ter sido reeditado.  Editores, vocês também estão alienados na onda dos partidos que formam a chamada “base aliada” do governo?

                  (Publicado no jornal "O Dia", edição de 9-6-2012)

*Francsco Miguel de Moura, poeta e prosador, mora em Teresina, PI, Brasil. Tem curso de Licenciatura de Letras e pós-graduação em Crítica de Arte, esta feita na Univesidade Federal da Bahia, na época em que morou lá.

2 comentários:

Gisa disse...

Excelente análise Chico! Um prazer ler-te. Cada dia que passa mais vontade tenho de te conhecer pessoalmente para podermos conversar sem barreiras. Enquanto isso não ocorre, sigo aqui sempre ao teu lado.
Um grande bj no teu coração.

CHIICO MIGUEL disse...

Amiga Gisa
Que bom que você segue em minha companhia,uma poeta que eu admiro por sua fina sensibilidade. É sempre um prazer encontrar-te em minhas páginas, da mesma forma que sinto de corração tuas palavra, aqui ou no seu próprio blog.
abaços e xeirinhos do amigo

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