domingo, 24 de março de 2013

DEUS É DEUS, E NÓS SOMOS O QUÊ?

Francisco Miguel de Moura*

Vou empreender uma viagem à Terra Santa, com minha mulher, na companhia do Pe. Tony Batista, da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima. Alguém pode até admirar-se:

- “Lá vai você, metendo-se com Igreja, teologia, etc. quem até bem pouco tempo bancava o agnóstico, por ser escritor e poeta. Que heresia”!

Heresia, não senhor. Estudei durante quatro anos na Faculdade Católica de Filosofia do Piauí, onde a matéria Teologia era obrigatória. Se não aprendi mais foi por malandragem – que aqui quer dizer contestação. Vivíamos o final dos anos 1960 e começo de 1970, quando a chamada “Redentora”, ditada pelos generais, fazia e desfazia leis, eles que nunca estudaram uma linha de Tratados de Direito, fosse o romano ou o inglês. De “golpe” eles sabiam muito; de Democracia, nada. E naquela época os poetas e artistas foram os baluartes da derrubada da ditadura dos militares, haja vista um Geraldo Vandré, um Chico Buarque, um Caetano Veloso e os inúmeros jornalistas e escritores, atores e poetas que se inscreveram na linha de frente, eram tantos que não seria possível citá-los aqui, inclusive os que morreram e os que ainda estão sendo descobertos pela “Comissão da Verdade”. Eu também sofria com a perda de liberdade de falar e publicar. E por seguir os poetas, que também são profetas, assim estou agindo: Mudando. Camões,  poeta maior da língua, escreveu: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança;/ Todo o Mundo é composto de mudanças, / Tomando sempre novas qualidades”. 

Assim, completo: Por que não mudo eu, se todas as coisas mudam constantemente, se o mundo é uma mudança sem fim?

A vida existe, a morte existe (esta, apenas como uma etapa da vida): Não há vida sem morte e vice-versa. E Deus existe. Não aquele Deus Sol, Estrelas, Planetas, Luas, Firmamento. Esses são deuses dos agnósticos, primitivos. Como é que o Universo existiria sem uma vontade para que ele existisse?  Essa vontade, esse poder é Deus. Quem, senão Deus, nos poderia dar um prêmio tão grande como o da liberdade?  Direta ou indiretamente, tudo que existe, vai existir ou deixou de existir é obra de Deus. Nós também, obra de Deus, por isto seus filhos.

Recentemente tenho lido e relido livros religiosos como a Bíblia, “Um homem só”, de Maria Helena Ventura (escritora portuguesa atual), “A vida de Jesus”, de Plínio Salgado, entre outros. E a conclusão a que venho chegando é que Jesus sempre existiu: Pai, Filho, Espírito Santo, partes de um só Deus – o mistério da Santíssima Trindade, que eu, ainda menino, lecionando primeiras letras e catecismo, ensinava para os alunos. Deus não é nada solitário, como pensei anteriormente. Mas, quem sou eu para dizer quem e como é Deus, se tantos filósofos no passado e no presente já pensaram isto e viram que é impossível: a parte não explica o todo.  Somos filhos de Deus, Jesus nos chama de irmãos o e Espírito sobre-paira sobre nós e sobre tudo, e sempre existiu. Jesus também.  Quem falava aos profetas do Velho Testamento?  Por ventura não seria Jesus não encarnado, em nome do Espírito? Quando o profeta Isaías, repreendendo a Acaz por desobedecer ao Senhor, anunciou: “Ouvi, casa de Davi: Não vos basta fatigar a paciência dos homens. Pretendeis cansar também o meu Deus? Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco. (Isaías, cap. 7, vs.10-14). 

Era o primeiro sinal bíblico de que Jesus se encarnaria (logo, Jesus já existia) e viria morar com os homens, seus irmãos, para confirmar a lei e enfatizar o mandamento do amor: “Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei”.  As palavras do Anjo a Maria - um dos mais profundos mistérios da religião cristã, pela sua natureza simbólica e ao mesmo tempo poética - confirmam a existência de Jesus antes de Cristo e do Espírito Santo, ambos no trabalho divino sobre a humanidade. 

Aponto um texto da escritora Maria Helena Ventura, em “Um homem só”, para fechar este artigo: “Em vez de sono, o estranho sorve o milagre da madrugada a expandir-se, entre frases inspiradas como salmos. O chefe da caravana boceja tomado por um estranho torpor... Depois da excitação da erva, um abraço sonolento?... Procura não fechar as pálpebras, mais pesadas do que um coro de trigo bem medido. Olha para o perfil do homem a seu lado... sereno. Ainda consegue articular a palavra entalada na garganta:

- Afinal quem és tu, forasteiro?

- Um homem, nada mais do que um homem”.

Jesus poderia ser esse “forasteiro” nas palavras do chefe da caravana. E muitas caravanas ele acompanhou até Deus dispô-lo para o seu ministério.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da APL- Academia Piauiense de Letras e da IWA- International Writers and Artists Association - Estados Unidos.

2 comentários:

verinha disse...

Poeta querido!
Que você ,sua amada esposa e seu amigo,façam uma viajem maravilhosa,tenho orgulho em ser tua amiga,quanto mais sei sobre tu, mais te admiro.
Que Deus o abenço-e sempre...Mestre.
abraços
veraportella

Unknown disse...

Um mortal!

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