segunda-feira, 7 de outubro de 2013

QUADRA ANATÔMICA

Francisco Miguel de Moura*



Sobre linda, minha tia
era mesmo uma tiazinha!
Duas amêndoas nos olhos,
os seios – amendoazinhas.

Idade? Dez a catorze,
não me lembro e nem precisa
a mesma do seu sobrinho.
Só recordo que ela tinha
um rosto branco e vermelho
e uma curta blusinha.

Brincávamos no arvoredo,
vezes descendo e subindo
ela na frente, eu atrás,
estava sempre sorrindo.
Boa tia, infância minha!

Mas um dia ela morreu,
não devia ter morrido.
Antes velha encarquilhada
que este peso em meu sentido.

Infância e tia! – Ai! perdidos!
- Que eu só devia enterrar
na marca do seu umbigo,
na ternura dos seus seios,
nas pregas do seu vestido!

Do tempo não me esquecer!
Assim fiz minha cantiga
cantada na moda antiga
pra meu sonho não morrer.

____________________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta e prosador nascido no Piauí (Francisco Santos, outrora Jenipapeiro, povoado pertencente a Picos),aos 16 de junho de 1933 (depois da grande seca de 1915). Publicou cerca de 33 livros, uns pequenos outros grandes, sua estreia se deu em 1966, com o livro de poemas “Areias”. Depois publicou “Linguagem e comunicação em O.G. Rego de Carvalho”, pela Editora Artenova, do Rio, com o qual se tornou conhecido no Brasil inteiro, ganhando fama como crítico. Mas seu negócio mesmo é a poesia clássica.
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