sexta-feira, 27 de junho de 2014

LEITURA: “A CULPA É DAS ESTRELAS”

Francisco Miguel de Moura
Escritor
Membro da Academia Piauiense de Letras.

      Deixando de lado a leitura intelectual, onde não entram os sentimentos, falemos da leitura descompromissada: a leitura emocional, a leitura-recreação. Por ela entram, no nosso cérebro, a educação moral, sentimental, espiritual, entre outros tipos. É a literatura-ficção: - a poesia, o conto, o romance. O crítico literário, ao ler um romance, mesmo pela primeira vez, faz duas leituras: uma, a artística, da invenção, da sublime criação; a outra, a intelectual, profissional – a de colocar no papel em que espécie de teoria ou escola se enquadra.

       Queixamo-nos da falta de leitura no costume dos brasileiros. Algumas pessoas, quando falam sobre um romance, dizem que não leram o livro, mas assistiram à peça de teatro ou ao filme. Ora, a literatura é uma arte; o cinema, outra; e muito diferente das duas é o teatro. A leitura do livro é essencial para se conhecer a obra, dou como resposta. Ver o filme ou assistir à peça não supre a leitura do livro. As artes se completam, mas cada uma é diferente, no modo de ser e no modo de influir. A leitura de romances é essencial na vida das pessoas. Não acredito na cultura de quem não leu sequer um romance. Assisti ao filme “A culpa é das estrelas”, baseado no romance “best-seller” de John Green, autor americano até então desconhecido entre nós. A capa da revista “Veja”, edição de 14-5-2014, tem como título – matéria de capa – “OS SUPERPODERES DA LEITURA”. A publicação examina o livro e o filme, vide pgs. 121 a 131, e informa que dois milhões de jovens brasileiros já se encantaram com os livros de John Green e só têm a ganhar. “Ler ficção cria bons estudantes, melhora a capacidade de relacionamento e ativa os lugares certos do cérebro”.
Descontada a intenção de propaganda, vamos ao miolo da matéria e veremos que os jornalistas se baseiam em entrevistas e leituras de pessoas com sadia compreensão e entendimento das verdades mais gerais da psicologia humana. “John Green diz que nem todos os finais são completamente felizes, ele põe realidade no enredo”, declara Mayara Barbosa, de Curitiba-PR, uma das leitoras do romance. Outra, a Profa. Dayse Mara Dantas, de Goiânia - GO, surpreende: “Leio Green porque sou formada em letras e aprecio quem sabe usar as palavras”. E assim vão os elogios e considerações do romance “A culpa é das estrelas”. 

        Nunca fiz segredo de que não gosto de “best-sellers”; de mais a mais há livros e há livros, uns considerados clássicos logo na primeira edição e outros que são como fogo de palha: - apagam no mesmo momento. Claro que não vou tecer comentários críticos sobre o livro de Green, não obstante tenha assistido ao filme e gostado. A leitura influencia nosso cérebro, de modo geral, para o bem, pois todas as pessoas (excluídos os psicopatas) têm um quê, um mínimo de bondade. Os livros que fizeram mal à humanidade são poucos, mais ou menos uma dezena, os quais já focalizei em outro artigo. Agora citarei outras fontes esclarecidas sobre o assunto, para não ficar apenas em minhas palavras: “O ser humano é uma espécie gregária e cooperativa – e se nossa mente está configurada para ter EMPATIA com a dor do próximo, talvez, por acidente, ela também se importe com a dor do próximo e também com a dor de figuras que não existem”. É isto que pensa Jonathan Gottschal, da Universidade de Washington, autor conjuntamente com Jefferson, do livro “O animal que conta histórias”. O mesmo autor continua: “Há estudos que mostram que a ficção melhora nossa capacidade para a EMPATIA, nossas habilidades sociais e nossa inteligência emocional”. Outras autoridades no assunto, entre as quais Véronique Boulenguer, do Laboratório de Dinâmica da Linguagem, Paris, concorda que, quando se lê, “regiões do cérebro do leitor são ativadas como se ele estivesse fazendo o mesmo que o personagem em ação”. Ou seja, a EMPATIA, única forma de sentimento especialmente humano, é um conceito-chave para entender as razões de sermos “animais que contam histórias”, escrevem histórias. E na referida reportagem, para ficar mais clara esta observação científica, foi usada a seguinte metáfora: - “UMA CANTORA COM VOZ DE VELUDO” nos impõe ouvir-sentir que estamos apalpando aquele tecido tão macio, diferentemente do que ouviríamos se a frase fosse trocada por esta: “UMA CANTORA DE VOZ AGRADÁVEL”. Os vários depoimentos mostrados convencem-nos de que os leitores de Machado de Assis, William Shakespeare e de outros grandes autores são mais eficientes nos estudos e na vida, mesmo que venham a ser médicos ou matemáticos. Confesso que li poucos “best-sellers”. Recordo-me de apenas dois: “O perfume”, de Patrick Süssekin, e “O caçador de pipas”, de Kaled Rossein. Mas fiquei interessadíssimo em ler “A culpa é das estrelas”, depois de assistir ao filme respectivo. 

        Fechando esta conversa sobre leitura e recreação, ambas ligadas entre si e dependentes da educação, que é dependente do governo, que depende dos partidos e dos sindicatos (inclusive os do crime e do tráfico), concordo que a orientação educativa no Brasil do período Lula-Dilma tem sido um retrocesso, ou seja, a liquidação da tradição e o implante da anarquia. Com o articulista Rodrigo Constantino, de “Veja”, dizemos a uma só voz: “Há um espantoso retrocesso no Brasil, em todos os setores, especialmente na educação pública e, se for o caso e o eleitor assim escolher, não resta dúvida de que tudo vai acabar mesmo em UM VALE DE LÁGRIMAS”.

         E, certamente, a culpa de tudo isto é das “estrelas do PT”.

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