quarta-feira, 29 de abril de 2015

JOVITA FEITOSA – SÍMBOLO CONTRA O MACHISMO

Autor:
Francisco Miguel de Moura
Escritor, poeta e membro 
Academia Piauiense de Letras.

Uma parte da biografia de Jovita Feitosa, alguns leitores já viram em algum lugar. Mas queremos aqui, além de uma mini-biografia da heroína da Guerra do Paraguai, mostrar a Jovita na sua origem. Este era seu apelido, ou o nome familiar, com queiram. Seu nome completo: Antônia Alves Feitosa, filha de Maximiano Bispo de Oliveira e de Maria Alves Feitosa. Nasceu no Sertão do Inhamuns, na hoje cidade de Tauá-CE. Ficou órfã de mãe, na sua adolescência, vitimada uma epidemia de cólera, e ficou morando com o pai pouco tempo. Como tinha um espírito aventureiro, logo aos 12 anos saiu de casa e foi parar na casa de um tio, Rogério Alves Feitosa, que morava em Jaicós-PI.

A família Feitosa, daquelas bandas do Ceará, é famosa pela bravura e destemor. Jovita Feitosa bem cedo era apontava como uma pessoa forte e guerreira. Na infância e um pouco na adolescência dedicava-se à música. Mas quando ouviu falar do clamor patriótico criado pela invasão do Brasil contra o tirano Francisco Solano Lopez, que já invadira Mato Grosso e ainda continuava buscando a invasão do Sul, em 1864.

Ela ouviu o que dizia o Imperador: “O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever.”. E a frase lhe ficou gravada na alma. O tio ainda tentou demover de sua intenção de ir lutar pelo Brasil, na Guerra do Paraguai, maior guerra e a mais resistente entre países da América do Sul. Mas foi inútil, Preparou-se o disfarce pessoalmente, largando seus os sonhos musicais.  Vestiu-se de homem, pois era assim que poderia chegar lá a Teresina e depois ao Rio, de onde partiam os corpos de voluntários. Apresentou na capital da Província, conseguiu, a princípio, convencer as autoridades militares. Mas, sua trama foi descoberta por uma mulher que a “dedurou’’, enquanto passava pelo Mercado para comprar alguma coisa de sua necessidade. Mas ela, com seu discurso: “queria vingar a humilhação passada por seus compatriotas nas mãos dos desalmados paraguaios”, conseguiu receber o fardamento em Teresina e embarcar para o Rio, mesmo sabendo que se tratava de mulher. Quem pudesse depois, desistir de ir para o centro da batalha e ficar cuidando dos feridos, no grupo das enfermeiras. Mas ela não aceitou.
Foi assim que, já próximo ao embarque, no dia 16 de setembro de 1865, recebeu uma carta do Ministério da Guerra, nestes termos: 

“Não havendo disposição alguma nas Leis e Regulamentos militares que permitam a mulheres terem praça nos Corpos do Exército, nem nos da Guarda Nacional, ou de voluntários da Pátria: não pode acompanhar o corpo sob o comando de V. S. com o qual veio da Província do Piauhy a voluntária Jovita Alves Feitosa na qualidade de praça do mesmo corpo, mas sim como qualquer outra mulher das que se admitem a prestar juncto aos corpos em campanha os serviços compatíveis com a natureza do seu sexo, serviços cuja importância podem tornar a referida voluntária tão digna de consideração, como de louvores o tem sido pelo seu patriótico offerecimento: o que declaro a V. S.para o seu conhecimento e governo”.

Disfarçar-se de homem, a fez burlar as regras estabelecidas pela sociedade de então, sendo assim, talvez, o primeiro grito das mulheres pela igualdade com o homem, um direito que só vieram a conseguir, aos poucos, em luta continuada, muito tempo depois.

Jovita teve uma vida relâmpago. Não obstante o ofício do Ministro, Jovita Feitosa fixou-se no Rio onde teve sua história repercutida e recebeu homenagens. Manteve uma amizade, também muito rápida, com o engenheiro inglês Guilherme Noot, a quem dispensou simpatia e favores amorosos, Melhor dizendo, passou a viver com ele. Mas também foi pouco tempo, pois com apenas 19 anos de idade suicidou-se. Mas há outras versões para esta história.  Várias ruas e avenidas do Rio e de outras capitais ganharam seu nome como homenagem, que não pode ser ao soldado mulher que foi à guerra do Paraguai ajudar a trazer a vitória para o Brasil, mas simplesmente como forma de glorificar a mulher independente e sua luta pelos direitos sociais merecidos. A partir daí, ser mulher deixou de ser uma discriminação odiosa, porém vista com simpatia.

Não obstante as outras versões de morte da heroína Jovita Feitosa, como, por exemplo, a de ter-se apaixonado, e por causa dos seus ciúmes ter sido morta por ele, o mais provável é que se sentiu decepcionada, só e abandonada, longe dos seus, terminou por suicidou-se com uma punhalada no coração em 09 de outubro de 1867, no Rio de Janeiro.

O escritor Prof. Arimathea Tito Filho, em seu livro “Governos do Piauí”, considera um fato histórico merecedor de registro junto aos acontecimentos marcantes daquele tempo. Dois outros escritores piauienses, Dr. Humberto Guimarães e Assis Brasil, celebram-na em romances que ainda estão sendo lidos por aí.

Outra fonte de pesquisa será o site da Academia Tauaense de Letras, onde o Sr. Carlos Gomes, membro da cadeira n° 33.

Homenagens a Jovita Feitosa também foram prestadas pelo jornal “Folha de Picos”, no Caderno Especial sobre os “171 anos da cidade de Jaicós-PI”, assim como na internete, in “osebodomessias.com.br”, cuja página lança uma bela fotografia, em traje de soldado da Pátria, da heroína de Jaicós e Tauá, cearense e piauiense, portanto. Na wikipedia, a enciclopédia livre, ela posa novamente em fotografia de combatente e está classificada com Voluntária da Pátria, Força – Marinha, País – Brasil.

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