segunda-feira, 20 de julho de 2015

DESESPERO (poema)

 



Francisco Miguel de Moura*
                            
                 Ao poeta Fernando Pessoa
   
                                            





Deixem-me respirar completamente,
Depois de sorver a vida e seus finitos,
Deixem-me vagar a passos, vulgarmente,
Por todas as cidades, vilas e distritos.

Deixo a vocês, todos vocês canalhas,
Lixo, gosma, sujos, sarros e detritos
Do que vivi, sonhei, amei perdidamente.

Não quero ver meus nomes mal escritos,
Nem palavras ouvir que sejam gritos.

Deixem-me voar, saltando e não bonito,
Vão-se todos da praia onde eu me espraio
Ouvindo a música dos surdos e a palavra
Dos proscritos.

Grito de dor, de medo... Ou silício de paz?
Irei soltar tribalmente onde ninguém me ouça,
Pois juro que ao universo pouco ligo
Como quem é capaz de ouvir besouros
Roendo o teto, sem perder o juízo.

A eternidade inteira, inteiramente nu,
Na escuridão que é luz dos homens mansos,
Ficarei completamente ignorante (e ignorado)
do presente, do passado e do futuro.

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 *Francisco Miguel de Moura – poeta brasileiro. E-mail: franciscomigueldemoura@gmail.com

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