Conheci, na época em que comecei a estudar
em Picos, de 1954 em diante, o Prof. Antônio de Barros Araújo, naquele tempo conhecido
por “Pé de Serra”. Éramos jovens e amigos. Sua popularidade e simplicidade
cativavam os estudantes. Eu fui um dos privilegiados que privei da sua amizade.
Ele era professor de Português, em cursinhos de formação de alunos para o Exame
de Admissão ao Ginásio e depois se tornara professor do próprio ginásio. Mas, enquanto
ia a Teresina, para assistir às aulas na Faculdade de Direito, ele me confiava
o seu curso de Admissão e desempenhei bem enquanto o fiz. Éramos amigos, assim,
de conversas como também um pouco de brincadeiras e farras. Ele era tão popular
na cidade quanto o Prof. José dos Santos Fonseca, professor de Geografia.
Depois de formado em Direito, tornou-se político. O destino dos melhores de sua
família. E eu me fiz bancário do Banco do Brasil. As atividades nos juntam e elas
mesmas nos separam. Mas o sentimento daquela amizade continuaria como um
presente, não passaria.
Ao saber de sua morte pelo do jornal “O
Dia” de 01/04/2015, fui tomado de emoção e tristeza, mas ao mesmo tempo de
alívio porque ele se aliviava das dores deste mundo. Embora viesse doente há
algum tempo, por mim não era esperada pra tão cedo. Tanto que já me preparava fazer
uma visita, e se pudesse entrevistá-lo com o fim de utilizar-me no livro ainda
em construção, “Uma História de Picos”.
Narra o jornal “O Dia”: “Antônio de Barros Araújo faleceu no final
da tarde de ontem (31-03-2015) o ex-Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado
e ex-deputado estadual Antônio de Barros Araújo, pai do Conselheiro Joaquim
Kennedy Nogueira Barros. Tinha 80 anos, morreu em casa, após complicações
provocadas pela esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma patologia degenerativa
do sistema nervoso que acarreta paralisia motora progressiva. O corpo foi
levado para a sede do TCE-PI, localizado à Av. Pedro Freitas, ao lado do Centro
Administrativo, onde foi velado. E, nas primeiras horas da manhã de 01/04/2015,
foi transportado para Picos, onde será sepultado”.
Filho de Joaquim Antônio de Araújo e Maria
Alvina de Araújo, nasceu em Picos, em 03 de setembro de 1934. Casado com Maria
dos Remédios Barros. Exerceu as funções de tabelião público, professor da
Escola Técnica de Comércio de Picos, professor e diretor do Colégio Marcos
Parente e presidente do Centro Estudantil Picoense. Advogado, diplomou-se pela
Universidade Federal do Piauí.
Da linha oposicionista tradicional de
Picos, Barro Araújo filiou-se, logo à UDN. Com o apoio de Helvídio Nunes de Barros,
o político maior da família, foi eleito Prefeito de Picos, em 1970, exercendo o
cargo até 1972, quando já se encontrava filiado à ARENA. Foi antecedido pelo médico Oscar Neiva Eulálio
e teve como sucessor, na Prefeitura, Dr. José Nunes de Barros, médico e irmão do
Dr. Helvídio Nunes de Barros. Verifica-se que, na sua carreira, fez as
seguintes mudanças de partido: - Da ARENA, na época da Revolução dos Militares,
foi para o PDS e finalmente fixou-se no PFL, seguindo a ordem do poder da época.
Deputado Estadual eleito, exerceu a nobre
função legislativa entre os anos de 1975-1992. Foi reeleito em 1982 e em 1986.
Mas não concluiu último mandato de Deputado por ter sido nomeado Secretário de
Justiça do Governo Freitas Neto. A seguir foi para o Tribunal de Contas do
Estado. Em 1976, perdeu a disputa da Prefeitura de Picos, para o Dr. Severo Maria
Eulálio (MDB). É irmão de Abel de Barros
Araújo, prefeito de Picos nos anos 1983 a 1992.
Como empresário, Dr. Antônio de Barros
Araújo criou a rádio FM Cidade Modelo, que deve continuar com a família ou
especificamente irá para seu filho Dr. Kennedy Barros, político como o pai e
também tendo sido Conselheiro do TCE-Piauí.
Na sessão ordinária de 04-04-2015, da
Academia Piauiense de Letras, anunciei a morte de Barros Araújo, falei sobre
sua vida e sobre o começo lá em Picos, ele já mestre e eu seu aluno. Fomos muito
amigos, acrescentando que era um homem popular, lutador, inteligente e de bom
caráter, pelo que apresentei voto de pesar à mesa da “Casa de Lucídio Freitas”,
no que fui secundado pelo acadêmico Jônathas de Barros Nunes, moção aprovada
por unanimidade. Solicitei também que fosse levada ao conhecimento dos
familiares essa homenagem da Academia Piauiense de Letras, através de ofício a
eles dirigido.
Se eu houvesse entrevistado o Prof. Barros
Araújo, a primeira pergunta a fazer-lhe seria mais ou menos esta: - Naquele
tempo, você era mais conhecido por “Pé de Serra” entre amigos, alunos,
familiares e mais outras pessoas. Você tem saudade dos anos 1950/60, período considerado
pelos picoenses de “Anos de Ouro”? Ele certamente responderia sim. Eu também tenho e muita. Seu irmão José de
Barros Araújo (Dedé), que era do meu tope e meu colega de ginásio, foi também um
dos meus companheiros de festas e de brincadeiras.
Por todo esse passado, posso afirmar que
Antônio de Barros Araújo - meu amigo “Pé de Serra” - foi um dos mais
conceituados prefeitos e deputados de Picos do nosso tempo e um bom pai de
família. É uma personalidade muita grata. Se não me engano, o apelido, com o
qual não se incomodava, viera de uma canção do grande cantor e compositor
nordestino Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que ele, em menino, gostava de cantar:
“Lá no meu pé de Serra / deixei ficar meu
coração. / Ai que saudades tenho! Eu vou voltar pro meu Sertão”.
Que outra melhor forma de manifestar-me
poeticamente a seu respeito, visto que eu, naquela época já escrevia poemas e
por “Poeta” era tratado? Retrato o
sentimento de amizade e intimidade que tínhamos, e só. Pois, na verdade, como
disse, não acompanhei sua vida política.
***
Franacisco Miguel de Moura, poeta e prosador, está aualmente escrevendo uma História de Picos. Lançou recentemente "Literatura do Piauí", pela Universidade Federal do Piauí.
Nenhum comentário:
Postar um comentário