Roberto de
Queiroz*
Em crônica publicada
no portal Nova+, em 22/12/2015,
Admmauro Gommes assevera que, atualmente, “pedaladas” é um
vocábulo “sujo” e não dá para limpá-lo nem por meio de um “lava-jato”, uma vez
que o último vocábulo carrega em si uma carga de sujeira de maior tomo que o
primeiro. É óbvio que o cronista faz alusão aos escândalos que ocorrem
atualmente no Brasil, envolvendo políticos e empresários. O julgamento desses
fatos, na linguagem popular, é chamado de lavagem de roupa suja. Creio que, pelo andar da carruagem, toda a roupa suja que o país terá de lavar
em 2016 continuará de molho até depois do carnaval. Após esse período, poderá
ficar de molho de novo. Infelizmente,
pensar assim não é pessimismo. Eu chamaria de previsão factual.
Para Jorge
Hélio, “o futuro é o passado andando de costas”. E, tendo em vista o cenário da
política nacional contemporânea, cabem aqui as palavras do cônsul romano Marco
Túlio Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), que, embora escritas há mais de dois mil
anos, ainda hoje são repetidas e parecem ter sido escritas em nossa era.
Refiro-me às “Catilinárias”,
sentenças acusatórias de Cícero contra Lúcio Sérgio Catilina, declaradas em pleno senado romano. Ali, Cícero
expôs publicamente a dissimulação do líder da conspiração frustrada, Catilina,
que insistia em frequentar o senado, apesar dos crimes que cometera. Logo no
primeiro discurso, de um total de quatro, Cícero faz as seguintes indagações a
Catilina: “Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa
tua loucura? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos?”
Do ponto de vista bíblico, a
corrupção nasceu com Eva, implementou-se com Adão e, consequentemente, com seus
descendentes (cf. Gen. 3.1-22). A corrupção é, então, uma praga que vem se
alastrando desde os primórdios da humanidade. Por isso, concordo com a tese de
que “o homem não se assombra de sua própria ganância” (Rui Barbosa). Porém discordo desse célebre intelectual, quando ele
afirma que, de tanto ver prosperar a desonra, a injustiça e os poderes nas mãos
dos maus, o homem chega a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto. Ao contrário, de tanto ver essas
mazelas sociais e de tanto conviver com elas, o homem passa a agir por
mimetismo. Como resultado, sua
consciência adormece e ele passa a achar isso normal.
Por fim, parafraseando Marina Colasanti, eu
digo que o homem se
acostuma com essas coisas, mas não deveria... E asseguro que ainda não rimos de nossa honra
nem termos vergonha de ser honestos. Assim, espero que o apagar das luzes deste
final de ano seja breve e que estas, ao serem reacesas, tragam consigo as luzes
da revitalização da esperança.
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* Professor
e escritor. Autor de “Leitura e
escritura na escola: ensino e aprendizagem”, Livro Rápido, 2013, entre
outros.
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