sábado, 3 de setembro de 2016

OLHO OS JORNAIS E ESTREMEÇO

José Maria Vasconcelos
Cronista

         Acabara de ministrar a última aula de um curso de Redação, solicitado por escola privada. Uma estudante acompanhou-me até o portão: “Professor, você nos incentivou a ler e acompanhar os acontecimentos atuais para uma boa redação. Devo lhe dizer que só rola desgraça... Olho os jornais e estremeço:  expõem, exaustivamente, a degradação da família, consumo e tráfico de drogas, estupros de crianças e adolescentes e morte e desgraças!”
         Uma frase da estudante bateu-me forte: “Olho os jornais e estremeço”. Adolescente de 15 anos pronunciar uma frase tão condensada de sentimento humano, exaustivamente cantada há 30 anos, 1986, portanto o dobro de sua idade?! “Querida, onde você encontrou essa frase?” Referia-se a uma linda canção de Roberto Carlos, APOCALIPSE”, advertindo o mundo para o caos social. A estudante ouvira a música em encontro de jovens de sua igreja: “Perto do fim do mundo / Como negar o fato / Como pedir socorro / Como saber exato / O pouco tempo / Que resta / Só vai sobrar / O que presta. /... OLHO O JORNAL E ESTREMEÇO / Todo final tem seu começo / Taças amargas derramadas / Profecias confirmadas alertam / Que é o fim da estrada / Tempo de dor / Falta de amor /... / Drogas num mar sem porto / A violência, o crime / Na aprovação do aborto / Por tudo isso / Se a terra treme / Só quem não deve / Não teme / Pra quem seguir Seus passos / E o Seu amor profundo, / Ele virá trazendo / A luz de um novo mundo”.
         A estudante tinha suas razões para censurar a temática abusiva da imprensa que transforma o noticiário em liturgia da tragédia humana. Só caos moral, só tragédia e busca de audiência. Um tema oportuno para redação nos concursos.
         Meios de comunicação, especialmente a televisão, costumam festejar tragédias, em vez de denunciá-las. Oferecem pouquíssimo espaço à divulgação de valores morais; exemplos de famílias construídas em princípios sadios; jovens libertos dos vícios; adolescências castas e prudentes nas relações amorosas; recuperação de bandidos; amantes da biodiversidade; ações comunitárias, sem espera dos governantes.
         Os elétrons saltam de uma órbita para outra do átomo e formam partículas, que se transformam em blocos, planetas e estrelas. Um mundo maravilhosamente harmonizado pela física quântica. A unidade na pluralidade. Florestas, animais, rios, oceanos, desertos e prados convivem sob a batuta do equilíbrio ecológico. Todavia, a razão humana tenta harmonizar a vida nos seus paradigmas do quanto mais escandaloso mais divertido, assistido e lucrativo.
          A imprensa evita abordar suicídios para não induzir pessoas a irracional ato. Por que não agir com outros níveis de notícias, como estupros coletivos, que, em vez da denúncia e informação, induzem marginais a praticá-los? Uma adolescente, ainda lhe ardendo a seiva dos puros sonhos, pode se educar nos paradigmas da TV e meios de comunicação? Ou irão deixá-la desencantada, estremecida com o pão ordinário da informação? 30 anos se foram, e só pioraram as coisas. A geração atual precisa ouvir a canção e refleti-la. Por que o apocalipse depende de nós, e não do castigo de Deus.


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