domingo, 11 de dezembro de 2016

PROSOPAGNOSIA: ENTREVISTA

THAIS DE LUNA a FRANCISCO MIGUEL DE MOURA,
para o Correio Braziliense


28 de setembro de 2009

1- Como e quando você descobriu que tinha prosopagnosia?
R - O nome prosopagnosia é recente, embora já existisse a deficiência da memória localizada que dificulta a retenção de rostos na memória do paciente. Ninguém por aqui sabia nada – até que as revistas VEJA e ÉPOCA, antes o Jornal do Brasil, começaram a publicar matérias sobre o assunto. Foi aí que comecei a interessar-me pelo assunto. Minha mãe (já falecida) me dizia que não decorava o rosto das pessoas, tinha dificuldade de reconhecê-las. Eu, me observando, vi que acontecia o mesmo comigo.

2- Você já passou por alguma situação constrangedora por causa desse distúrbio? Pode contar alguma(s) delas?

R - Constrangedora, não. Algumas vezes, pessoas que foram de minhas relações e, durante l, 2, 3 ou mais, não tivemos nenhum encontro, me dizem: Você é orgulhoso, passa por mim e não fala. Que é que houve? Esta é uma maneira de não ser pego de surpresa, indagado: Não está me reconhecendo? Quem sou eu? E a gente ficar com cara de bobo diante delas. Então é melhor bancar o importante ou o distraído. Evitar. Recentemente eu estava vendo um programa de tevê, na casa de um amigo, e disse mostrando um artista: Ele é filho de meu primo, é fulano de tal, não é? E meu amigo disse: Não este aí é Fulano de Tal. Como é que pode ser seu primo, ou filho de seu primo?

3- Mais alguém da sua família tem isso?

R - Sim, poucas, além de minha mãe. Mas me reservo o direito de não dizer quem, entende?
4- Você chegou a ir a um médico para ser diagnosticado com o distúrbio ou descobriu por conta própria o que tinha? R - Não, mesmo porque não existe nenhum especialista no assunto. Nem remédio. A medo que a gente tem é de a prosopagnosia ter alguma relação com o Mal de Alzheim, temida por todos.

5- Quais mecanismos você desenvolveu para reconhecer mais facilmente as pessoas?
R – Ouvi-las, em mim a voz é essencial. Também a roupa, o cabelo, os olhos, o nariz, a boca, a cor, etc. O que o prosopagnósico não consegue é guarda o conjunto, o que chamamos de feições. Mas as partes, sim.

6- Você consegue reconhecer uma pessoa imediatamente quando a encontra ou demora algum tempo (nem que sejam alguns segundos)?
R – Demoro, sim. A “memória de conjunto”, se assim podemos chamar, no prosopagnósico, é muito fraca e depois de algum tempo apaga-se. Esse conjunto também se estende a objetos: marcas de carro, por exemplo, só sei quando olho o nome da empresa industrial: Ford, Chevrolet. Mesmo o meu próprio, desconheço, a não ser pela cor, pela placa, por outro sinal particular.

7- O que você enxerga quando olha para um rosto?
R - Penso que vejo as partes de cada vez, sem o entrelaçamento.

8- No seu caso, você tem prosopagnosia desde sempre ou algo desenvolveu o distúrbio (como uma pancada na cabeça, um derrame etc.)?
R Acredito que desde sempre. Não lembro muito de quando criança. Mas posso lembrar das pessoas mais queridas que morreram e não há meio de visualizar seus rostos. Com o avançar da idade, vinha ficando pior, mas depois tomei tento e passei a usar a memória neste sentido, por exemplo, vendo novelas, filmes, e tento gravar pelo menos enquanto passa o capítulo ou aquele filme. Depois, tento, vendo o artista – ou a artista – noutro programa, tento decifrar quem é, lembrar-me do nome e o que é que ela faz no primeiro programa, etc.


9- Você já sofreu preconceito ou foi considerado antipático por causa da prosopagnosia?
R – “Orgulhoso, não fala mais com ninguém!”, dizem – talvez pelo fato de ser escritor, localmente (Municípios e Estado do Piauí) já famoso e muita gente me conhecer, inclusive no jornal e da tevê.

10- A prosopagnosia te impede ou dificulta fazer algo, como assistir a filmes?
R - Às vezes sim, quando se trata de um filme que versa assunto da minha antipatia: guerra, droga, violência, etc. Gosto de filmes de amor, romances, dramas, comédias, etc. Divirto-me muito, embora nem sempre acerte o nome do personagem que está atuando.

11- Você também tem dificuldades em reconhecer certos objetos ou só rostos mesmo? Se tiver, quais seriam?
R – Já falei acima em marcas de carro, mas tenho realmente dificuldade de reconhecer formas com que não esteja bem familiarizado. Esqueço muito das corres. Já errei no nome da cor da frente de minha casa.
Uma observação a mais: Não sei se acontece com outros prosopagnósicos, mas comigo sim: Se fecho os olhos, não consigo visualizar rosto de ninguém. Já experimentei, tentando lembrar. Lembro do corpo, do caminhado, do chapéu, do cabelo, até do riso e da voz principalmente. Mas..
Tenho dito sempre, entre outras coisas, que na minha vida de escritor, somente nas sessões de autógrafos, me sentia um pouco sem jeito. Mas depois passei a perguntar descaradamente: - Qual é seu nome completo? E completo com uma desculpa: - Na hora que estou autografando me dá um branco... Nem do nome de meu pai eu me lembraria, se vivo fosse e viesse a essa fila.
12 - Preciso ainda saber como o senhor quer que seu nome apareça no jornal, além de saber qual a sua idade e profissão.

R - Meu nome, quer civil, quer literário é FRANCISCO MIGUEL DE MOURA. Familiarmente sou tratado por Chico Miguel. Já lancei 30 livros, entre poesia, crítica, romance, conto e crônicas. Tenho 76 anos – nascido que fui a 16 de junho de 1933. Meu “livro lançado recentemente, em 2008, se chama ‘FORTUNA CRÍTICA DE FRANCISCO MIGUEL DE MOURA”, contendo uma biografia escrita por José Maria de Aguiar Ramos. E de minha autoria, apenas: - uma longa entrevista e um depoimento mais ou menos longo, poemas e cartas. Dos outros: crítica de diversos escritores de todo o Brasil a respeito de minha obra. O primeiro livro lançado se chama “AREIAS”, poemas, 1966, numa Editora de Timon – MA. Tenho obras lançadas no Rio e São Paulo, que participaram de bienais. Fui premiado em todos os gêneros que pratico. Sou membro da Academia Piauiense de Letras e da IWA – International Writers and Artists Association, Toledo, OH, Estados Unidos.


Atenciosamente,
Thais de Luna.




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