THAIS DE LUNA a FRANCISCO MIGUEL DE MOURA,
para o Correio
Braziliense
28 de setembro de 2009
1- Como e quando você
descobriu que tinha prosopagnosia?
R - O nome prosopagnosia é
recente, embora já existisse a deficiência da memória localizada
que dificulta a retenção de rostos na memória do paciente. Ninguém
por aqui sabia nada – até que as revistas VEJA e ÉPOCA, antes o
Jornal do Brasil, começaram a publicar matérias sobre o assunto.
Foi aí que comecei a interessar-me pelo assunto. Minha mãe (já
falecida) me dizia que não decorava o rosto das pessoas, tinha
dificuldade de reconhecê-las. Eu, me observando, vi que acontecia o
mesmo comigo.
2- Você já passou por alguma
situação constrangedora por causa desse distúrbio? Pode contar
alguma(s) delas?
R - Constrangedora, não.
Algumas vezes, pessoas que foram de minhas relações e, durante l,
2, 3 ou mais, não tivemos nenhum encontro, me dizem: Você é
orgulhoso, passa por mim e não fala. Que é que houve? Esta é uma
maneira de não ser pego de surpresa, indagado: Não está me
reconhecendo? Quem sou eu? E a gente ficar com cara de bobo diante
delas. Então é melhor bancar o importante ou o distraído. Evitar.
Recentemente eu estava vendo um programa de tevê, na casa de um
amigo, e disse mostrando um artista: Ele é filho de meu primo, é
fulano de tal, não é? E meu amigo disse: Não este aí é Fulano de
Tal. Como é que pode ser seu primo, ou filho de seu primo?
3- Mais alguém da sua família
tem isso?
R - Sim, poucas, além de
minha mãe. Mas me reservo o direito de não dizer quem, entende?
4- Você chegou a ir a um
médico para ser diagnosticado com o distúrbio ou descobriu por
conta própria o que tinha? R - Não, mesmo porque não existe nenhum
especialista no assunto. Nem remédio. A medo que a gente tem é de a
prosopagnosia ter alguma relação com o Mal de Alzheim, temida por
todos.
5- Quais mecanismos você
desenvolveu para reconhecer mais facilmente as pessoas?
R – Ouvi-las, em mim a voz é essencial. Também a roupa, o cabelo, os olhos, o nariz, a boca, a cor, etc. O que o prosopagnósico não consegue é guarda o conjunto, o que chamamos de feições. Mas as partes, sim.
R – Ouvi-las, em mim a voz é essencial. Também a roupa, o cabelo, os olhos, o nariz, a boca, a cor, etc. O que o prosopagnósico não consegue é guarda o conjunto, o que chamamos de feições. Mas as partes, sim.
6- Você consegue reconhecer
uma pessoa imediatamente quando a encontra ou demora algum tempo (nem
que sejam alguns segundos)?
R – Demoro, sim. A “memória
de conjunto”, se assim podemos chamar, no prosopagnósico, é muito
fraca e depois de algum tempo apaga-se. Esse conjunto também se
estende a objetos: marcas de carro, por exemplo, só sei quando olho
o nome da empresa industrial: Ford, Chevrolet. Mesmo o meu próprio,
desconheço, a não ser pela cor, pela placa, por outro sinal
particular.
7- O que você enxerga quando olha para um rosto?
R - Penso que vejo as partes de cada vez, sem o entrelaçamento.
8- No seu caso, você tem
prosopagnosia desde sempre ou algo desenvolveu o distúrbio (como uma
pancada na cabeça, um derrame etc.)?
R Acredito que desde sempre.
Não lembro muito de quando criança. Mas posso lembrar das pessoas
mais queridas que morreram e não há meio de visualizar seus rostos.
Com o avançar da idade, vinha ficando pior, mas depois tomei tento e
passei a usar a memória neste sentido, por exemplo, vendo novelas,
filmes, e tento gravar pelo menos enquanto passa o capítulo ou
aquele filme. Depois, tento, vendo o artista – ou a artista –
noutro programa, tento decifrar quem é, lembrar-me do nome e o que é
que ela faz no primeiro programa, etc.
9- Você já sofreu
preconceito ou foi considerado antipático por causa da
prosopagnosia?
R – “Orgulhoso, não fala
mais com ninguém!”, dizem – talvez pelo fato de ser escritor,
localmente (Municípios e Estado do Piauí) já famoso e muita gente
me conhecer, inclusive no jornal e da tevê.
10- A prosopagnosia te impede ou dificulta fazer algo, como assistir a filmes?
R - Às vezes sim, quando se
trata de um filme que versa assunto da minha antipatia: guerra,
droga, violência, etc. Gosto de filmes de amor, romances, dramas,
comédias, etc. Divirto-me muito, embora nem sempre acerte o nome do
personagem que está atuando.
11- Você também tem dificuldades em reconhecer certos objetos ou só rostos mesmo? Se tiver, quais seriam?
R – Já falei acima em
marcas de carro, mas tenho realmente dificuldade de reconhecer formas
com que não esteja bem familiarizado. Esqueço muito das corres. Já
errei no nome da cor da frente de minha casa.
Uma observação a mais: Não
sei se acontece com outros prosopagnósicos, mas comigo sim: Se fecho
os olhos, não consigo visualizar rosto de ninguém. Já
experimentei, tentando lembrar. Lembro do corpo, do caminhado, do
chapéu, do cabelo, até do riso e da voz principalmente. Mas..
Tenho dito sempre, entre
outras coisas, que na minha vida de escritor, somente nas sessões de
autógrafos, me sentia um pouco sem jeito. Mas depois passei a
perguntar descaradamente: - Qual é seu nome completo? E completo com
uma desculpa: - Na hora que estou autografando me dá um branco...
Nem do nome de meu pai eu me lembraria, se vivo fosse e viesse a essa
fila.
12 - Preciso ainda saber como
o senhor quer que seu nome apareça no jornal, além de saber qual a
sua idade e profissão.
R - Meu nome, quer civil, quer
literário é FRANCISCO MIGUEL DE MOURA. Familiarmente sou tratado
por Chico Miguel. Já lancei 30 livros, entre poesia, crítica,
romance, conto e crônicas. Tenho 76 anos – nascido que fui a 16 de
junho de 1933. Meu “livro lançado recentemente, em 2008, se chama
‘FORTUNA CRÍTICA DE FRANCISCO MIGUEL DE MOURA”, contendo uma
biografia escrita por José Maria de Aguiar Ramos. E de minha
autoria, apenas: - uma longa entrevista e um depoimento mais ou menos
longo, poemas e cartas. Dos outros: crítica de diversos escritores
de todo o Brasil a respeito de minha obra. O primeiro livro lançado
se chama “AREIAS”, poemas, 1966, numa Editora de Timon – MA.
Tenho obras lançadas no Rio e São Paulo, que participaram de
bienais. Fui premiado em todos os gêneros que pratico. Sou membro da
Academia Piauiense de Letras e da IWA – International Writers and
Artists Association, Toledo, OH, Estados Unidos.
Atenciosamente,
Thais de Luna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário