sexta-feira, 14 de maio de 2010

O QUE É NATUREZA!




Francisco Miguel de Moura*




Desde muito tempo ouço dizer que o homem nasce com certas inclinações ou tendências. É herança genética. E tal herança é muito forte, havendo ambiente propício, ela se desenvolve. Esses pressupostos geraram a discussão do modo de formação do comportamento, da personalidade.

O meio e a sociedade chegam a vencer as tendências? Não havia certeza de que a personalidade fosse uma soma dos atributos genéticos com a tintura que a educação e o meio oferecessem. Muito menos se a percentualidade de 50% para cada um componente estaria próxima da verdade.

Mas a ciência, esquadrinhando o genoma, avançou tanto nos últimos anos que uma tal afirmação torna-se ridícula. A revista “Veja”, de 13/09/2006, mostrou à saciedade, em matéria denominada “Anatomia da Personalidade”, de responsabilidade das jornalistas Gabriela Carelli e Érica Chaves, que a ciência descobriu que herança genética influi mais do que se pensava na formação dos caracteres comportamentais das pessoas. Assim é que componentes como explosividade, liderança, inteligência, homossexualidade, religiosidade, etc. já vêm marcados no “ser” de cada ente gerado.

Acreditando na ciência, podemos dizer, então, que o poeta nasce, ou seja, a tendência poética é natural; com ela o homem nasce, tal como com a inclinação para o crime, o suicídio, a amoralidade, a loucura. Isto não significa que inclinação, ou tendência, seja determinismo. Se houver algo que a educação possa fazer, esse algo se chama aperfeiçoamento da personalidade. A vida ensina. É experiência adquirida com sacrifício, do velho adágio. Mas os educadores devem estar conscientes de que não se ensina nada sem que o educando queira. Os sentimentos valem muito. O querer é a alma do homem. Para mostrar que as predisposições naturais, genéticas são muito fortes, a ciência tem feito pesquisas entre gêmeos vitelinos e univitelinos, e estes são os que comprovadamente têm modos, gostos, sentimentos e qualidades iguais. Num universo de 7.000 pessoas, concluiu: “Em 88% dos casos o par de irmãos univitelinos têm o mesmo estado civil – a genética influi também na decisão pessoal de casar, divorciar-se ou permanecer solteiro”. E aferiu a tendência no modo de vestir, em profissões, etc. sendo que os univitelinos criados juntos têm mais tendência a se diferenciarem um pouco, em vista da pressão da família e da sociedade, de modo geral.

Quando eu e minha mulher, certo dia, visitávamos um casal amigo, uma das filhas (gêmeas univitelinas) correu para o jardim, acompanhada da outra. Os pais chamaram-nas para apresentá-las. Mas uma saiu-se com esta: “Já sei o que vão dizer: Olhem as gêmeas! Elas não se parecem?”

Os estudos apresentados na reportagem de “Veja” mostram também a influência do meio. O Instituto de Psiquiatria da Universidade do King’s College, Londres, concluiu que os genes que atuam na liberação de neuro-transmissores, responsáveis pela depressão e por atitudes anti-sociais, só se manifestam em pessoas expostas a situações de grande estresse, como perda de emprego ou morte na família. Outro instituto de pesquisa identificou regiões genéticas similares em amostras de sangue de 400 pacientes com anorexia ou bulimia, mas “os mesmos marcadores aparecem em pessoas sem o distúrbio”, diz a geneticista Cynthia Bulik. A reportagem resume: “O genes carrega a arma e o ambiente puxa o gatilho”, diz o geneticista Matt Ridley. E o biólogo Richard Dawkins, também da Universidade de Oxford, e autor de “O gene egoísta”, arremata: “A genética do comportamento mudará muita coisa. Se partirmos do pressuposto de que nossa mente é regida por algo além dos conceitos éticos e morais aprendidos – como punir um assassino? Quando um computador não funciona, em vez de puni-lo, nós o consertamos.”

____________________
*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...