DOIS SONETOS EXISTENCIAIS DE FRANCISCO MIGUEL DE MOURA

DOIS SONETOS
de
Francisco Miguel de Moura*

1. BALANÇO DOS SESSENTA
“minhas mãos sucumbiram nas memórias”
ymah théres


não quero mais pisar no meu passado,
não quero mais saber do meu por-vir.
se estão caindo as horas, se hei de ir
meu ser precisa estar recompensado.

Salve o presente, pois não vou sair
no desamor, no seu conselho e agrado,
enquanto eu nado o mar de lado a lado,
enquanto não há lágrima a despir.

preparo as asas de ícaro sem penas,
desmantelo engrenagens, solto antenas,
que as empresas do ‘não’ se tornem ‘sim’.

como tantas das vidas, minha vida
foi sempre uma viagem comovida:
vivi de sustos, não morrer assim!



2. SONETO
“nutrir a vida de essências…”
ymah théres



já subi a montanha, os altiplanos
do que é humano, consumi verdades
inteiras, incompletas, e vaidades
que, afinal, me afagaram nos enganos.

não estou cansado. desmanchei os planos,
para andar na soltura da(s) vontade(s),
embora sejam tantas. mas que há de(s)
fenestrar o umbigo dos decanos?

a vida maravilha o bom ouvinte,
quem vê por trás dos óculos de alcance
sente o cheiro da flor na flor seguinte.

e é mais completa a alma, a voz discente
de quem descrê, mas dança o seu romance:
- viver, viver, viver e/ter/na/mente.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, mora em Teresina - PI. E-mail:
franciscomigueldemoura@superig.com.br Web: usinadeletras.com.br
http://cirandinhapiaui.blogspot.com
http://franciscomigueldemoura.blogspot.com