quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

É BOM QUE TUDO SEJA

Francisco Miguel de Moura
poeta brasileiro
É bom que tudo seja como é
e ter o que não tem.
Não natural é tudo ser tão belo
e bom e bem.

Faço a beleza com os olhos,
as mãos, a cabeça, os pés.
Os pés no chão da graça.

Beleza (ou sonho?)
só depende do suor, do sangue,
    do sofrimento e da tristeza/brilho.   
Eu sei sonhar – e muito mais:
- eu sei fazer o sonho. –
Eu me edifico
eu amo-me
eu me complico.

(Extraído do livro "Quinteto em mi(m)", 1986)
__________________
Comentário da coluna: O penúltimo verso “eu amo-me”, do ponto de vista gramatical, é um erro de ênclise, deveria ocorrer a próclise: eu me amo. Porém, o autor intencionalmente quis expressar sua autoestima, egoísmo no senido etmológico. Amor entre dois “eus”, eu e o me (que também é eu). O autor quis dizer eu amo eu.
(Da Coluna GANGORRA, do jornal “Diário do Povo”, de Rodrigues dos Santos, professor e jornalista, edição de 15.12.2010 – Teresina, Piauí).

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