terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Lembranças da infância

Férias escolares chegando, sempre me traz boas recordações da minha infância. Costumo dividi-la em três fases, que coincidem com as casas que morei. As melhores lembranças vivi em uma casa que ficava numa rua sem calçamento. Lá aprendi a fazer alçapão e arapuca para caçar passarinhos, matar carambolo com baladeira, prender formiga rainha e borboletas, empinar papagaio, jogar triângulo, bilar peteca (só para guabes) e, principalmente, atuzingar os vizinhos.

Brincávamos de balacondê, trinta e um salve todos, cabra-cega, bunda-canastra e muita baba. Não tinha bolo fofo nessa época. Menino definhava mesmo, não tinha tempo pra comer. Lembro minha mãe pelejando pra botar sentido, pra ver se a gente se criava, mas menino não estava nem aí, queria mesmo era algazarra. Às vezes isso custava alguns brogues e muitos carões.

Uma das caçoadas prediletas da garotada da rua era aperrear o juízo do Bibelô. A biba abilobada gostava de se vestir esquisito. Enrolava um lençol na cabeça, parecia um turbante, usava uma vestido curto, deixando ver as cambitas que tentava se equilibrar nos tamancos. Quando ele passava era um chafurdo, a criançada gritava:

- Bibelô! Bibelô!

Aí, era sebo nas canelas. Se ficasse parado era um destroço, levava pedrada. Menino é peia! Sabe como é que é. Os pais naquela época não gostava de menino encafuado, empurrava remédio pra verme.

Adulto no meu tempo de criança gostava de botar medo. Não pode comer manga com leite. Não pode tomar banho suado. Não pode brincar de bunda-canastra quando passar um redemoinho, senão vê o capeta. Era tantas proibições...

Apenas lembranças da infância. Hoje as férias são bem diferentes. As crianças metem medo nos adultos. Muita tecnologia e pouca ternura. Muita festa e pouca conversa. Muito ócio e pouca leitura. Quem tem dinheiro vai para Disneylandia, para a praia ou uma fazenda. Quem não tem tanto, fica em casa na internet: MSN, Orkut, twitter, facebook ou assistindo enlatados americanos. Tempos da mais intensa perda de tempo, que os mais jovens acreditam estar exercendo o direito à preguiça.

Autor: Francisco Miguel de Moura Júnior

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