terça-feira, 15 de março de 2011

MARCO LUCCHESI – ABL e CADEIRA 15

MATÉRIA DE DIVULGAÇÃO
Elaborada por Francisco Miguel de Moura

Com 47 anos, o intelectual carioca Marco Lucchesi, com 47 anos,  entra para a ABL,sendo o membro mais jovem membro da  Casa de Machado de Assis (Academia Brasileira de Letras). Ele substitui o Padre Fernando Bastos de Ávila, falecido em 6 de novembro de 2010.
Marco Lucchesi é principalmente ensaísta, em cujo gênero desenvolve uma atividade profícua e profundamente embasada em conhecimento e saber acadêmico, publicando em vários jornais brasileiros. Mas também é poeta, considerado entre os melhores da nova geração.
Eleito na quinta-feira,3 de março (2011), o professor, ensaísta e poeta carioca Marco Lucchesi para a Cadeira 15 da instituição, que 34 dos 38 votos possívedis o integrante mais jovem da ABL, substitui o Padre Fernando Bastos de Ávila, falecido em 6 de novembro do ano passado.

O poeta recebeu 34 dos 38 votos possíveis (tendo sido três abstenções e um voto em branco).  Compareceram à sessão 26 acadêmicos, 9 dos quais votaram presencialmente. Houve 27 votos por carta.
Marcos Vinicius Vilaça,  Presidente atual da ABL, depois da eleição, afirmou:  “A chegada do escritor Marco Lucchesi constitui uma contribuição das mais valiosas para o quadro da Academia. Jovem e brilhante, certamente será de muita valia para os projetos e propostas que nossa Casa deseja implementar nos próximos anos”.

Formado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), doutor em Ciência da Literatura pela UFRJ e pós-doutorado em filosofia da Renascença na Universidade de Colônia, na Alemanha, Lucchesi tem, entre suas publicações, os livros "Meridiano Celeste & Bestiário", premiado com o “Prêmio Alphonsus de Guimarães 2006”, da Biblioteca Nacional e foi finalista do “Prêmio Jabuti 2007”; "Sphera", que recebeu Menção Honrosa do “Prêmio Jabuti 2004”, além do Prêmio UBE de Poesia”Da Costa e Silva 2004”; "Os Olhos do Deserto"; "Saudades do Paraíso" e "O Sorriso do Caos".
Também teve algumas de suas obras publicadas em italiano, como "Poesie" e "La Gioia del Dolor".
A Cadeira número 15 tem como patrono o poeta e teatrólogo Gonçalves Dias e seu primeiro ocupante foi Olavo Bilac. Além de Bilac e do Padre Ávila, ocuparam a Cadeira Amadeu Amaral (1875-1929); Guilherme de Almeida (1890-1969); Odylo Costa, filho (1914-1969); e Dom Marcos Barbosa (1915-1997).

LUCCHESI, POETA (2 poemas)


DUALISMO 

Teu rosto é claro se meu sonho é escuro, 
só vens me visitar quando não quero, 
andas perdido quando te procuro, 
se mais confio em ti mais desespero, 
se buscas o passado sou futuro, 
Se dizes a verdade és insincero, 
se temo tua face estou seguro,
se chegas ao encontro não te espero. 
Bem sei que em nosso olhar refulge o nada, 
que somos, afinal, a negação 
mais funda, mais sombria e desolada. 
Como lograr, meu Deus, reparação, 
enquanto segues longe pela estrada, 
de nossa irreparável solidão?  

DE RERUM NATURA
 
Alheios ao destino
dos mortais
além das nuvens
claras e sombrias
vivem os deuses
raros nas alturas
livres de enganos
dores nostalgias
da morte vil
que aos poucos nos invade;
da chuva de átomos
em que se evade
indefinidamente
a natureza
em sua eterna
mas avara empresa
de reunir
os átomos-enxame
seguindo a força rude
do cliname,
compostos provisórios
que se desfazem
 noutros repertórios:
estrelas, águas
nuvens, tempestades,
cristais, abelhas,
glórias ou cidades,
e flores, pedras
corpos, consciências
– figuram
como pálida aparência ...
e acima desse
mundo sempre em guerra
acima
da miragem dessa terra
repousam
esquecidos nos meatos
mais livres
os celestes, mais beatos
       [ in: Poemas reunidos]

Copiadas do site http://ww.palavrarte.com


LUCCHESI, ENSAÍSTA (artigo)


Wilson Martins

Mais ensaísta que crítico literário de estrita definição (na mesma estante de Carpeaux, Antônio Cândido ou Augusto Meyer), Marco Lucchesi destaca-se entre os intelectuais das gerações mais recentes pela amplitude de interesses, erudição ecumênica e incomum afinidade com a coisa literária. (A memória de Ulisses. Rio: Civilização Brasileira, 2006). É um goethiano integrado na weltliteratur, cujo tipo de visão aplica nos seus próprios ensaios: Joaquim Cardozo (grande poeta sem a glória que merece), Villon, o padre Vieira e Cervantes, figuras epônimas não só da literatura universal, mas também das suas épocas e das seguintes: “A filosofia de Kant, a Revolução Francesa e o Fausto de Goethe. Desses horizontes surgiram… os fundamentos do mundo moderno: a coisa em si e a representação, a figura do gênio e o complexo de Fausto, a igualdade e a fraternidade (…)”.
Tudo isso se passa no plano ideal da literatura como idéia, para além das belas-letras que a representam: “Pode-se mesmo dizer, sob a chancela de uma história suspensa, que Goethe escreveu a Divina Comédia. E Dante o Fausto. Ou que Cervantes redigiu as Elegias romanas e Goethe, o Dom Quixote (…). O problema da luz e da unidade, do silêncio e da palavra, da vida e da representação aproximam Dante, Goethe e Cervantes”. Uma razão profunda tornou contíguos, neste livro, os capítulos sobre Spengler e Gibbon: são dois espíritos dominados pelo sentimento trágico da existência. Os grandes monumentos da historiografia e da filosofia da história são construídos sobre as ruínas das civilizações: “As ruínas são como que células mortas de uma história viva”.
The decline and fall of the Roman empire é livro simétrico ao A decadência do Ocidente, este último escrito e publicado quando o processo degenerativo da civilização parecia irreversível, especialmente aos olhos de um alemão (1918-1922). Coloquem-se os dois livros nas perspectivas mentais em que foram escritos: “Onde estão? As glórias de assírios e romanos. O império sassânida e mongol… o farol de Alexandria… os olhos de Cleópatra… o orgulho de Bonifácio VIII… onde estão as colunas e propileus, outrora soberbos, que fizeram da Acrópole o centro do mundo?”. Reflexões de Marco Lucchesi, que ainda transcreve as de Gibbon: “Enquanto este grande corpo (o Império Romano) foi invadido por violência aberta ou minado por uma vagarosa decadência, uma religião pura e humilde insinuou-se de modo sutil na mente dos homens, cresceu silenciosa e obscura, e finalmente erigiu a bandeira triunfante da cruz nas ruínas do Capitólio”.
Como se sabe, a idéia central de Spengler consistia em distinguir entre Kultur e Zivilisation, da vida ao letargo. De Apolo a Fausto, no que, claro está reencontramos o mito goethiano: “Vejo na história universal”, escrevia ele, “a imagem de uma eterna formação e deformação, de um maravilhoso advento e perecimento de formas orgânicas”. Assim voltamos, não apenas a Goethe, mas a Vico e a Niestzsche, e aos grandes mitos, conforme a cota de Marco Lucchesi: “Apolo é a alma da cultura antiga, a linha clara e sutil, a expressão do equilíbrio… Fausto é o espaço puro, sem limites”, segundo as notações de Spengler: “Fáusticos são a dinâmica de Galileu, a dogmática católico-protestante, as grandes dinastias da época barroca com sua política de gabinete, o destino do rei Lear e o ideal da Madona, desde e Beatriz de Dante até o fim do segundo Fausto”.
“Grandeza e decadência de Oswald Spengler” – eis o título de um livro possível: “Terreno movediço”, conclui Marco Lucchesi, deslocando-se “vertiginosamente de uma época para outra. Cria infundados paralelos. Impossíveis morfologias. (…) O sistema é arrogante. Auto-suficiente… todos cumprem… um papel predeterminado. Isso levou Thomas Mann a criticar o descaso de Spengler com a humana liberdade, e Karl Popper e Isaiah Berlin. Para Spengler, apenas as culturas são indivíduas, e boa parte do fascínio de Der Untergang parece ter nascido dessa condição inelutável”. Apesar de tudo, o livro “foi um best-seller nos anos 20 e 30”, assim como o de Arnold Toynbee seria nas décadas seguintes, para receber posteriormente restrições idênticas, quase literais. É o destino inelutável a que estão condenados todos os filósofos da história, justamente por não serem simples historiadores factuais.
Conforme Benedetto Croce em livro recentemente traduzido (Rio: Topbooks, 2006), A história é a história da liberdade, mas também uma história de tentativas e erros, são proporcionais às tentativas. Pode-se encarar tudo isso com um movimento em espiral, não o trajeto retilíneo e triunfalista em que acreditam os espíritos simples.

                          Copiado do site http:www.jornaldepoesia.jor.br

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...