Francisco Miguel de Moura*
Somos sósias: - abelhas de silêncio,
Sentimos cheiros, gostos, e ouvimos
Passos e o brilho das flores
despertadas. Despertamos.
E de viola em punho, no sereno,
Tocamos todas as canções
Junto aos passarinhos. Madrugada.
Verdade que elas fazem mel e zumbem,
Ferroam quando estranhos se lhes tocam
Simples toques ou toques traiçoeiros.
Ou quando as plantas secam
E lhes negam água... Aí tecem o fel
Dos seus ferrões.
Na procura do mel, o poeta morre
De dor, secretamente.
E elas, coitadinhas, se perdem na terra,
em seus atropelos,
como a salvarem os poetas
sem zunido, que assomam às estrelas.
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* Francisco Miguel de Moura, poeta, cronista, contista, romancista e crítico literário. Foi com essa última forma literária que conseguiu em 1972, ser editado por uma editora do Rio, que distribuiu o livro – Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho – pelo Brasil inteiro, tornando o autor mais conhecido do público, com apenas quatro livros publicados. Era o segundo livro que publicava, a estréia se dera com Areias, 1966, livro que vai ser reeditado brevemente.
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