sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A LÓGICA NO APRENDIZADO DA CRIANÇA

  Francisco Miguel de Moura*

             Nossos sentidos são cinco janelas para o mundo. Foi o filósofo Kant quem escreveu em “Crítica da Razão Pura” que “todo o nosso conhecimento começa com a experiência. Do contrário, por meio de que deveria o poder do conhecimento ser despertado para o exercício senão através de objetos que impressionam os nossos sentidos e em parte produzem por si próprios representações como Deus, liberdade, imortalidade?”. Essas observações são feitas segundo o “tempo”, chegando ele à conclusão de que, por esse ângulo, nenhum conhecimento precede em nós a experiência, e todo o conhecimento começa com ela. Mais à frente, entretanto, o filósofo Kant constata que, segundo a “razão pura” “a experiência não dá  jamais aos seus juízos verdadeira ou rigorosa universalidade”. Filósofo do “apriorismo”, como se vê, deixou a brecha do “espaço”. Um pouco difícil de compreender, mas não impossível: - Sem o espaço (o corpo), a criança não existiria: A lei da “relatividade” já estava em gestação antes do seu criador, Einstein. Há que acreditar num tempo em que a gente não tinha sido gestado, mas já existia na mente espiritual do Criador. Separar “tempo” e “espaço”? É possível desse jeito lógico. Ora, com o uso,  nossos sentidos crescem, aprimoram-se. Portas escancaradas ao mundo de fora e de dentro, esse mundo que é o homem, mesmo a criança por mais tenra que seja. Enquanto o cérebro vai-se desenvolvendo, a capacidade da criança vai aumentando. O desperdício que o “homo sapiens” sofreu até descobrir o fogo, a roda, a escrita, a máquina, a eletricidade, o rádio, a tevê, a internete, é incalculável - um desperdício imposto pela origem e sua natural evolução.

         Passemos agora ao campo da leitura, como experiência. As crianças aprendem tão rápido a ler e escrever que impressionam. E os governos do mundo inteiro, o brasileiro de modo especial, dispendem poucos recursos com a educação regular, desviam para outras formas, inclusive alfabetização de adultos, remédio sem eficácia. A facilidade de aprender do homem é inversa à sua idade. É mais fácil ensinar a uma criança de 1 ano que a uma de 7; é mais fácil ensinar uma criança de 2 anos que uma de 15 – quando já chegou à adolescência. Todos os programas educacionais deveriam concentrar recursos ao maternal, ao primeiro e segundo graus.  Toda criança é um gênio lingüístico e matemático. Se lhes ensinarmos mais cedo, melhor aprenderão. E as exigências para a eficiência do aprendizado são apenas três: a) A mensagem deve ser clara, em letras ou palavras. b) A mensagem deve ser segura. c) A mensagem deve ser repetida muitas vezes. Lamentável é que por mais de dez mil anos tenhamos mantido nossas crianças à distância da palavra escrita, distantes das línguas, dos professores e da escola, distantes do que é realmente novo. É mais fácil aprender a ler uma língua do que falá-la; ler aprende-se até sozinho, com gramáticas e dicionários.  Para aprender a falar só com professores e pessoas que dialoguem. É aí que entrariam os intercâmbios entre países e nações de línguas diferentes: - quanto mais diferentes da língua mãe, melhor, dizem os lingüistas e filólogos. As palavras escritas não mudam tanto quanto as faladas. Todos lembram que uma vez ou outra crianças dizem um disparate. E não é. Por exemplo, a tendência de conjugar os verbos irregulares como sendo regulares: A laranja “cabeu na jarra”, em lugar de “coube”, por exemplo. O educador Glenn Doman aponta a palavra “correiero”, dita por uma criança que apontava o “carteiro”. Ela estava mais do que certa. O que acontece é que as línguas nem sempre se comportam logicamente. Mas a criança já  possui a lógica da imitação, da comparação, do contraste. A criança descobrirá  as regras que governam os fatos, como chegar a elas e tirar conclusões. Mas, se ensinarmos as leis prontas, as criancinhas, na verdade, não poderão, facilmente, chegar aos fatos. Seu raciocínio é lógico-indutivo e não lógico-dedutivo. Aquele não é o método mais aceito pela ciência, este sim. Contraditoriamente, ninguém está  mais perto do cientista do que uma criança. Ser inteligente e criativo é aquele que está  sempre em busca, perguntado, ou espanta-se com o desconhecido, como as crianças, os cientistas e os poetas. Dizem os educadores Glenn e Janet Doman que “todos os cabeças ocas se parecem e todos os gênios são diferentes”. 

          Que dizer, então, do nosso tempo, com toda essa baboseira da mídia e massificação? Depois de tudo que se descobriu e criou, hoje somos “cabeças ocas”, coisas, mitos, mercadorias, idólatras e toda essa catervagem do pós-tudo (ou pós-nada)? Ai, que dó!   
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*Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, mora em Teresina, PI. E-mail: franciscomigueldemoura@gmail.com

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