quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O BEM E O MAL NECESSÁRIOS

  Francisco Miguel de Moura*

Já ouvimos falar, aqui e ali, que “há males que vêm para o bem”. Como acreditamos que “há bens que vêm para o mal”. Há contradição em tudo. Daí os pensamentos antitéticos: “um bem desnecessário” e “um mal necessário”. Essa introdução é para focalizar dois institutos sociais muito distintos e muito distantes um do outro: religião e prostituição, porém de muito poder.

Há mais ou menos três décadas, escrevi neste jornal que “a religião é um bem desnecessário”. Mas naquele tempo eu tinha meus 40 e tantos anos e pensava saber tudo.  Especialmente com relação ao catolicismo. Dizia-me católico, apostólico, mas não romano. E por quê? Porque a Igreja Católica tem uma história muito feia, no tempo da Inquisição: fogueiras de não-cristãos, de mulheres chamadas de feiticeiras, guerras de religião ou por ela apoiadas, etc. Entretanto, todos nós sabemos que a Igreja Católica deixou de ser, nas últimas décadas, tão conservadora quanto foi. Sentíamos o peso de algumas de suas pregações e práticas totalmente desnecessárias, como se fossem pecado mortal e levassem o cristão para o inferno. Hoje, sou católico, não totalmente praticante de todos os preceitos, mas acredito em Jesus e nos Evangelhos, onde não há, ao que se sabe, nenhuma contradição. Os mandamentos da lei de Deus são interpretados de forma que a gente pense numa fraternidade cristã, num humanismo generoso e não como nos tempos de Moisés. E leio a Bíblia, reconhecendo o maior e mais antigo livro de sabedoria da nossa cultura.  Entrementes, há outras seitas, ditas cristãs, que exageram, transgredindo não somente a lei de Moisés como a própria natureza.   A necessidade de religião é patente no homem, mas o mal desnecessário que traz são os dogmatismos exagerados, as guerras entre seitas (ou entre nações), a má interpretação dos livros sagrados, até mesmo em desacordo com as leis da ciência e da natureza. Mas religião é um bem, as religiões nem sempre, daí a desnecessidade. Porque, no meu entendimento, ser religioso é ligar-se com a natureza e com Deus, e não simplesmente fazer parte de um credo. No Oriente, os muçulmanos são os que mais fazem mal, não por seguirem Maomé, mas por mal interpretarem o Alcorão e outros livros. Daí, as guerras, o terrorismo.  Religião seria, então, “um mal desnecessário, quando leva o homem a tornar-se dogmático, perder sua liberdade de pensamento, liberdade que, intimamente, sempre leva ao conhecimento de Deus”.

Com relação ao outro item polêmico - a prostituição – claro que não há nenhuma regra, nenhuma religião, nenhum código moral que diga que o homem e a mulher devem prostituir-se. A prostituição é um mal da civilização, da cultura. Mas todo mundo diz que “a prostituição é a mais antiga profissão do mundo”. Não sei explicar nem confirmar a veracidade da frase, mas também não vejo como a pessoa deva trocar seu corpo por dinheiro ou por outros bens. Há muitos tipos de prostituição, não apenas a sexual. Por exemplo, quando um operário, de propósito se deixa ser atingido por uma máquina e se mutila porque sabe que será aposentado, há leis que o protegem, isto não deixa de ser uma prostituição. Mas sexo é poder, gozo, paixão, na sociedade moderna, permissiva, livre, em lugar de tornar-se um bem, transforma-se no mal. A promiscuidade traz não somente doenças terríveis como a “aides”, a maior até agora, leva a moral e os costumes da pessoa para um patamar indesejável. E a sociedade paga.  Por que uma mulher (ou um homem) se prostitui? A prostituição mais comum e aquela que o leitor está pensando: - dá prazer, custa dinheiro e dá desgosto. É, principalmente, naquela em que mulheres se tornam prostitutas por isto ou por aquilo e “sentam praça”, ou seja, estabelecem-se num cabaré, boate ou prostíbulo (há vários nomes), onde se alugam à madame (dona do estabelecimento) e se vendem aos fregueses, com todos os riscos. Uma vida cheia de vícios e de depravação.  Na minha cabeça, na minha compreensão, “Deus fez o homem e a mulher para que se amem, não para que simplesmente se amassem”. Para tanto, a Igreja instituiu o casamento...Até aí, tudo certo. Separação, litígios, desquites, divórcios, abortos, filhos abandonados, para quê?  A lei da natureza é o sexo por amor e para ter filhos, cuidar deles; e se conseguir prazer no acasalamento, ótimo. Mas a prostituição existe e pode enquadrar-se em “o mal necessário, desde que não torne o homem um dissoluto, um obcecado pelo sexo”, e só como situação temporária.

Mais só poderíamos dizer num ensaio longo e separado para cada um dos dois fenômenos humanos. Resumindo: - Nenhum mal é necessário permanentemente. E o bem é por Deus disposto, não pode ser desnecessário.
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* Francisco Miguel de Moura, poeta e prosador brasileiro,mora em Teresina, Piauí, Brasil



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