sábado, 21 de dezembro de 2013

MIGUEL BORGES DE MOURA, - DADOS BIOGRÁFICOS

João Bosco da Silva*

MIGUEL BORGES DE MOURA
Vulgo: Miguel Guarani

DADOS BIOGRÁFICOS

MIGUEL BORGES DE MOURA, nascido em 18 de maio de 1910, filho de Feliciano Borges de Moura (Sinhô do Diogo) e de Rosa Maria Rodrigues (da Conceição), o primeiro varão da família. Casou-se em 1932 com Josefa Maria de Sousa. São seus filhos: Francisco Miguel de Moura, Teresinha de Jesus Moura (falecida), Maria Josefa de Sousa (falecida), Maria Josefa de Sousa (Mariinha), Helena Josefa de Sousa, Rosa Josefa de Sousa (falecida), José Miguel de Moura (falecido) e Maria das Graças de Sousa (falecida ao nascer).
            Segundo seu filho primogênito, o versátil escritor, poeta e ensaísta Francisco Miguel de Moura, Miguel Borges de Moura, ainda moço, tomou outro rumo na vida "que não o do eito", tornando-se "mestre das primeiras letras, em virtude de sua inteligência e da habilidade reconhecidas pelo pai e pelos irmãos, pelos parentes e conhecidos do Diogo". E como teria acontecido seu aprendizado? Vejamos isso, nas palavras do nosso laureado escritor:
                       
                        "Miguel crescia mais em vivacidade e inteligência que no corpo. Mesmo franzino e magro, numa bela manhã de sol e calor, Sinhô do Diogo começa do planejado. Chama o filho, pega da "Carta de ABC" e passa-lhe como tarefa todo o alfabeto.
                             - Quando eu chegar da roça quero conta desta lição.
                        À noite, à luz da lamparina, Sinhô chama o filho e manda que ele leia. Para sua surpresa, o menino - devia ter entre 5 ou 6 anos - soube todas as letras na cartilha. E examinadas uma por uma, salteadas, reconheceu-as sem titubear".
  
                E foi assim que a ganga impura do saber foi, aos poucos, se cristalizando no cadinho da persistência e determinação até tornar-se em ouro de 24 quilates, que é a cultura e erudição do nosso querido mestre-escola Miguel Borges de Moura.
            A viola, ainda segundo Chico Miguel, não era a vocação primeira. Embora tenha começado a participar de cantorias mais ou menos por volta de 1940, nunca saiu de viola em punho para procurar contratos; só fazia cantoria esporadicamente, "quando aparecia um parceiro em sua casa". "Saía, sim" - prossegue Chico Miguel, nosso poeta maior - "à procura de alunos - pequenos e grandes - para alfabetizar e ensinar os primeiros rudimentos da Aritmética". Assim, passou "anos e anos (lecionando) em casas e fazendas, onde era chamado em toda redondeza de Picos (de Itainópolis a Alagoinhas, de Jenipapeiro a Guaribas e até muito pra lá, no sertão de terras planas já limítrofes com Valença e Pimenteiras" - conclui o filho biógrafo.
            Eu escrevi uma longa crônica em que dou testemunho da atividade magisterial do respeitado Mestre Miguel, publicada na revista "Cadernos de Teresina", editoria da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, depois incluída na biografia sob enfoque, da lavra de Chico Miguel - MIGUEL GUARANI - Mestre e Violeiro - e, finalmente, transcrita em livro de minha autoria, intitulado JENIPAPEIRO - A Terra dos Espritados. Neste livro, além desta crônica, ao falar dos antigos mestres, dou destaque a esse portento de nossa cultura e inteligência:

Mas o maior deles todos
Retirou da ignorância
Desde marmanjos barbudos
A nenéns da pré-infância,
A todos lecionando
Seu saber em abundância.
Nos haveres, sempre pobre:
Miguel de coração nobre.

Já que outro prêmio não tenho
Pra esse cavaleiro errante,
Que percorria as fazendas
Oferecendo, ambulante,
A jóia mais preciosa
Do seu saber cintilante:
GUARANI, de capa e estola,
Te celebro, ó Mestre-Escola!!!

          Nesta biografia de Miguel Guarani (termo que o próprio Chico define como "história de uma vida"), pode-se ter uma visão muito abrangente das atividades do mestre, suas dificuldades financeiras, suas andanças de um lugar para outro, a instabilidade da família, sua ausência de casa durante longos meses e... a pobreza quase franciscana em que a família sobrevivia. Nada obstante, segundo o biógrafo, foi a profissão de mestre-escola "que, bem ou mal, lhe deu o sustento e à família".
         Convém registrar, por conta da dita biografia, que o cidadão Miguel Borges de Moura, mui versado na Aritmética, mas também em muitas outras matérias (posto que a profissão de violeiro assim o exigia), jamais exerceu cargo público, embora tenha lecionado para a Prefeitura Municipal de Picos, no povoado Aroeiras. "Assim" - continua a explanar Chico - "continuou no serviço público não oficialmente, por algum tempo". Penso que sua situação funcional continuava precária nos idos de 1954, ocasião em que tive o privilégio de ser seu aluno, na Escola Isolada Franco Rodrigues, em Jenipapeiro.   
            É interessante registrar que Francisco Miguel de Moura afirma que: "Miguel Guarani não cantou muito, não fazia profissão, por isto não ficou célebre fora do Piauí. Começou mais ou menos pelo ano de 1942, quando tinha 32 anos. (...) Sua primeira cantoria, a estréia, aconteceu na casa de Izídio Tibúrcio da Silva, numa noite memorável, enfrentando o negro "Campo Verde", que por lá aparecera com sua viola. (...) O evento foi uma grande surpresa, uma vez que ninguém esperava o mestre-escola encarnar-se tão bem na pele de um violeiro improvisador, mas principalmente para o filho primogênito, autor deste trabalho, que, a partir de então, passou a admirar muito mais o pai, pelo brilho de sua inteligência".
          Miguel Guarani pouco cantou por não fazer da cantoria profissão e publicou menos ainda: dois ou três "romances", como os da Morte de Zilma, e Teresinha e Lourival. Deixou, entretanto, muitos esparsos, de vários gêneros, sempre escritos com a profundidade e sabedoria que o caracterizavam.
         Constituindo-se o cordel e o repente a matéria-prima desta obra, deveria estender-me mais sobre o assunto. Mas vou parar por aqui essa breve resenha sobre Miguel Guarani para deixar que o leitor julgue por si mesmo, ao ler sua peça mais notória, que vem a seguir: A Peleja com Antônio Lacerda.
           Miguel Guarani faleceu no dia 7 de agosto de 1971, no lugar Acampamento, próximo à cidade de Santo Antônio de Lisboa. E, encerrando, repito Chico Miguel, mais uma vez: "Meu pai e o Diogo, para nós, não são pessoa nem lugar: são duas entidades míticas, portanto impossíveis de ser interpretadas apenas nos seus aspectos materiais". 

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* João Bosco da Silva, escritor, natural de Francisco Santos - PI, é autor de vários livros, romances, contos e história da "terra dos espritados". Seu livro publicado sobre assunto "A Terra dos Espritados" é de . Agora publica outro livro importante sobre Francisco Santos, cujo nome não gravei, cujo assunto é o cordel e a poesia popular dos jenipapeirenses (Francisco Santos, antes de tornar-se um município independente de Picos, era chamado Jenipapeiro).

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