segunda-feira, 28 de julho de 2014

PRETO E BANCO: MISTÉRIOS

Francisco Miguel de Moura*
                                 

Na multidão contínua dos segredos,
Antes da nudez, já chora a criança,
E mexe-se entre palmadas futuras,
Que vão selar-lhe o bumbum branco.

Os mortos choram antes de morrer,
Depois, já não podem nem sabem...
O que fazer? A inquietude é vã.

Mortos e nascituros se parecem:
Seguindo caminho escuro, mexem
Do princípio ao fim: Que terrível!
Um cria a confiança (olhos não abrem),
O outro, na mais profunda fé, se fecha.

Quer nasçam para o que não sabem,
Quer morram para tudo o que ficou,
São perdas e mais perdas, são vinganças...
Naturais da carne? Ou de onde, então?
São a viva esperança unida,  à toa.

Como o puro e o impuro que se bipartem,
Qual seja claro-escuro, ou escuro-claro,
No vai-e-vem da virtude ou do pecado,
Algo há de ficar: - substrato eterno, vida...

Palmas, pois, aos mortos e aos nascituros,
Indo ou vindo, na esperança estão seguros.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, milita no jornal, na internet e tem publicado “livros, livros à mão cheia”, como queria nosso Castro Alves.

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