AMOR E VIRTUDE (romance)
francisco miguel de moura*
De
repente aparece o sinal,
irisam-se
os rostos,
lágrimas
fluem rio-acima e
desejos
reprimidos rio-abaixo.
Cai!
É um corpo de mulher,
rola
joelhos em terra,
reza
uma prece, Deus não ouve.
Ele,
o santo novo padre,
que
ninguém sabia
no
amor ferido.
Ela,
a freirinha linda,
ninguém
lhe adivinhando
a
que vinha.
A
vez primeira foi tão natural
na
mata cheia de intempéries!
As
almas se caindo em quatro
na
cama que os corpos não esperam.
Depois,
muitas vezes, muitas horas...
Merda
para a vizinha e o vizinho!
O
prazer reprimido gargalha
por
distantes canais e vinhas.
Do
medo – serem ouvidos
aos
berros, matando a sede
sem
mando, e lambuzados
da
luz das estrelas,
na
noite dos espinhos...
Agora,
sim, se calam.
De
"manhãzinha" correm
enquanto
muitos dormem,
e
o mundo os desconhece,
voltam
da lua e das estrelas,
que
não aparecerem.
Ela
- toda sedução,
viço,
beleza e glória.
–
"O mundo, que importa"?
Ele
– todo paixão, poder e amor.
–
"E se tudo souberem amanhã"?
Ela
- a mulher que borda a prece,
do
estômago à roupa,
do
beijo ao coito,
nos
carinhos, na dor.
A
noite vem salgada e vigorosa.
Desavergonhadamente,
o escuro
entra
no quarto
sem
janelas, sem luas,
na
nudez sem-olhos do “seu” povo.
Por
vezes bate a dona solidão,
no
descampado dos dias:
Da
igreja ao púlpito, do sermão
às
novenas ou
às
silentes grades do convento.
Passam
verões, chuvas e primaveras,
outonos
e tempestades, nada temem.
Quando
o mundo os descobre,
são
mancebos-amancebados, amém.
“Cruzes,
credo! Que juventude!
Só
podem lhes fazer o mal.
-
Ninguém cruze a soleira
daquela
porta, senão
para
o inferno vai!"
E
ai! que um dia descobrem
dos
dois – o antes e o depois:
Ele
era padre noutra freguesia;
ela
era freira noutro convento.
-
“E para que fugira?”
Quebraram-se
os contratos,
cada
um para o outro lado,
o
lado do amor sem convenção.
Anos,
muitos anos...
A
figueira secou.
O
quintal caiu.
A
casa foi engolida pela intendência.
Depois
de muitas “lutas” e luas
o
casal é re-conhecido pelo Papa
e
as virtudes antigas todas se salvam.
Mas
era tarde demais
para
o descente amor.
As
almas não se levantam pacientes,
mentem
e gritam levemente
ou
se vão como o suspiro de quem morre.
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