domingo, 22 de setembro de 2019

DAS PERGUNTAS - Poema de Paschoal Motta


Paschoal Motta*

Que é que eu planto neste chão revolto

se a água da discórdia nunca houvera solto



Que é que eu durmo nesta noite treda

se a estrela desta guia nunca dá luz leda



Que é que eu colho nesta roça imensa

se o corpo do espantalho nunca fala e pensa



Que é que eu caço nesta mata incauta

se a ave da demência nunca entoa em pauta



Que é que eu lambo nesta cuia turva

se o osso desta fome nunca a faz mais curva



Que é que eu transo nesta ponte em frente

se o rio desta incúria nunca afoga gente



Que é que eu cravo nesta cruz malina

se o sangue deste incesto nunca lava a sina



Que é que amo neste corpo e alma

se o leito deste tédio nunca é flor ou palma



Que é que eu berro desta boca afora

se o pranto preste gado nunca aboia embora



Que é que eu choro nestes olhos hirtos

se a farsa desta glória nunca aceita mirtos



Que é que eu traço nesta paisagem

se o barco deste remo nunca aporta a margem



Que é que eu queimo nesta coivara

se o ramo deste lume nunca aclara a cara



Que é que eu danço nesta festa opima

se o verso deste inverso nunca tange e rima



Que é que eu rezo pra coser a íngua

se a faca desta fala nem me afia a língua


_____________________________________________________ 
(Im Antologia Poética – 2, esgotado, Interlivros de Minas Gerais).
 Edição em homenagem à memória do Poeta Jorge Tufic. A  edição neste
blog foi autorizada pelo Autor

*PASCHOAL MOTTA,  de São Pedro dos Ferros, MG, Brasil. Professor de Lit. Brasileira e Portuguesa, Linguística Geral, Teoria da Literatura, Didática de Língua Portuguesa, Língua Latina. // Editor do Supl. Literário do MG. // PRÊMIOS Literários no Brasil e Exterior. // Prêmios em festivais de MPB // POEMAS traduzidos e publicados no Exterior.  // PUBLICAÇÕES principais: VER DE BOI, poemas. //NOVA 1, Magazine de Poesia e Desenho, Portugal. // ANTOLOGIA POÉTICA 2 (parceria) InterLivros de MG.  CANTIGA DE ADORMECER TAMANDUÁ, poemas, Casa de Cultura de SPF / IO, MG. // ESTAÇÕES DA AUSÊNCIA, poemas. Sec. Cultura MG / IO. // EU, TIRADENTES,  Ed. Lê, BH. // ANTOLOGIA COMENTADA DE LITERATURA BRASILEIRA, org. Zina Belodi et aliae /  Vozes, Petrópolis, RJ. POETAS DOS ANOS 30, org. Joanyr de Oliveira, Thesaurus, Brasília, DF, e ANE/Associação Nacional dos Escritores, SP. Tem originais inéditos de poemas e ficção

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...