quarta-feira, 29 de julho de 2020

QUADRINHAS


Francisco Miguel de Moura*


Num corpo que me galopa
por roças onde não mora,
vejo um cavalo que corre
do sol posto até a aurora.

Por que estou tão descontente
Quando o pensamento aflora,
Pra dizer tudo o que sinto,
Do ontem, chegando agora?

Não pensar é desfazer-se
Sem fazer o “mim” que chora,
Sem uma gota de riso,
Como um louco toda hora.

Se quis agora ser duro,
Duro que não fui outrora...
Fiquei tremendo, isto pode?
Que resta de mim, agora?

Vejo as folhas baloiçando
Ao vento que vem da aurora.
Que neutro me trouxe o dia,
Quando a noite inda me chora!

Como um cavalo que rincha,
Não sei se rindo, ou se chora,
Desfeito em sustos e nãos...
Onde esse cavalo mora?

Não sei, nem posso saber,
Faz tempo que fui lá fora,
Meu tempo vem da janela
que se fecha... E vai embora!
_____________
*Francisco Miguel de Moura, poeta e trovador. Sabiam que já recebi prêmio até de trova? Foi no Sesquicentenário da Independência do Brasil, num concurso em São Paulo.


Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...