sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024


 A DOR E O TEMPO

      

        Francisco Miguel de Moura*

      

      A dor menos dói 

      nos pontos roídos

      do corpo (se flui)

      entre sombras e luzes,

      na sala esquecida. 

     

      O silêncio comporta

      o tempo moído. 

      Prepara sem metro

      o que teria sido:

      Vento sem vindita,

      sem janela ou fresta,

      se há quem duvide.

      

      Tudo num cristal, 

      onde riscos, falhas

      são horas da lida

      e doida descida...

      Como se o imóvel

      andasse em corrida

      no fosso das águas,

      funda disparada, 

      em ânsia...

                    Asfixia!

      

       ----------------------

      *Francisco Miguel de Moura, este poeta

      desconhecido.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

 


O MAL DO SONETO                      

 

           Francisco Miguel de Moura*

 

 

Quis achar o começo

E não cheguei ao fim...

Por que não despeço

Cada passo ruim?

 

Quis o verso que teço

E me saiu chinfrim:

Seu tom, logo esqueço,

Se o poema é ter fim.

 

Da roupa, tive o frio,

Da cama, o travesseiro,

Da mulher, perco o cio:

E acordei-me solteiro,

 

E é com dor e alegria

Que enterro meu dia.

___________

*Francisco Miguel de Moura, poeta do começo ao fim

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

 A COISA BRABA

 

                    Francisco Miguel de Moura*                       

 

Quando acordo e me vejo pelo espelho

do meu quarto, a janela inda fechada,

nada do que já fui, nada do velho

me vem à frente. Onde perdi a estrada?

 

Sinto-me preso a um mundo que desaba,

sem graça, sem amor, sem segurança.

Não sei de onde é que vem a coisa braba,

se é por defeito meu, se é por vingança.

 

Tudo foge de mim. Onde está o homem?

O tórax sufocado pelo abdômen

e é tudo que me sobra do “eu” aflito.

 

Tento entender meus males, fecho o cenho,

mas não sei por que diabos me contenho,

sem forças de gritar...Retenho o grito.  

 

____________________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, elogiado pela crítica especializada de norte a sul, inclusive pelos exímios sonetistas Hardi  Filho e Francisco Carvalho

sábado, 27 de janeiro de 2024

 


INDEFINIÇÕES

    Francisco Miguel de Moura*

 

O amor não passa,

a vida não esquece

nem com trapaça.

 

O rio peca por correr

E, perdido, areia-se.

 

Só a eternidade fica

tonta, seca e peca,

no esconde-esconde

de um buraco negro.

 

A vida é um buraco

e o amor, o que será?

Ilusão, ilusões, ou, ou

uma brincadeira de esconder-se?

___________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

 

sábado, 20 de janeiro de 2024

 

A JÓIA RARA

 Francisco Miguel de Moura*


          Francisco Miguel de Moura*

 

Luz e sombra dão na mesma cor

dos olhos e do carinho.

Dizem que amor não some,

renasce do lodo, mansinho.

 

Mas preciso agora escutá-lo,

não abandono o que ganhei,

neste momento, sobretudo,

quando tentam riscar o passado.

 

Lábios e corações, ó, não se fechem,

os olhos têm a última esperança.

Que reste sempre um fio de cabelo

no tempo de cada um, nas entranhas.

 

Um vintém de qualquer aventura

para os que não conseguem

nessa margem se perder.

_____________

*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, Piauí. Este poema está no meu livro “Universo das Águras”,1979, o terceiro de poesia. E-mail: franciscomigueldemoura@gmail.com

 

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