Se sua
mulher mandar você pular do telhado, reze pra ele não ser muito alto
Conversando com umas amigas de uma importante cidade do interior
paulista nos últimos dias, ouvi uma máxima que, segundo elas era repetida pelos
pais. Essa máxima é a seguinte: “Se sua mulher pedir pra você pular do telhado,
reze para que ele não seja alto”. O que quer dizer essa máxima filosófica?
Primeiro, o óbvio, mas que, às vezes, parece não muito óbvio. A máxima
exemplifica uma sabedoria muito antiga: nos casamentos que funcionam, as
mulheres mandam no cotidiano, e esse cotidiano vai ao encontro do velho adagio
“a mão que balança o berço é a mão que manda no mundo”. Ao contrário do que
berra a turma contra o “patriarcalismo”, as mulheres bem casadas mandam.
Casamentos que duram são matriarcais em grande medida porque as mulheres
mandam em casa e no cotidiano. E, contra os que rezam na cartilha do “Segundo
Sexo”, livro da filósofa Simone de Beauvoir (1908-1986), as mulheres são também
o primeiro sexo.
Quando os homens não aceitam mais serem
mandados pelas mulheres, vão embora em busca de “novas senhoras”. O homem
sempre quer uma mulher que mande nele, sem ela, ele se sente perdido, mal
amado, mal cuidado e, portanto, ele devolve na mesma moeda.
É
claro que existem homens ruins que batem em mulheres e as violentam (e que
devem ser punidos). Mas a maioria dos homens não faz isso, e essa imensa
maioria cansou de se ver representada, da política à arte, das ciências sociais
às escolas das crianças, como os vilões do mundo.
Trabalhando de sol a sol, esses homens se encheram de ver suas vidas
narradas de forma falsa e enviesada. E, para a tristeza de muitas odiadoras de
homens, as mulheres que amam os homens bons e cuidadores resolveram se juntar
no grito contra a mentira travestida de “verdade sociológica”.
Críticas americanas do feminismo já haviam apontado o risco de que
muitas das críticas da família tradicional são mulheres que nunca conseguiram
achar um homem em que mandar no dia a dia.
Essa
incapacidade de encontrar um homem que as amassem o bastante para “obedecer” a
elas teria levado essas mulheres sem homens para mandar no ódio ao casamento
tradicional. Em suma, grande parte do feminismo raivoso (porque existe sim um
feminismo consistente contra abusos, menores salários e espancamentos) deita
raízes na incompetência de muitas mulheres em achar um homem em que elas
mandem, com carinho, humor, doçura e perenidade.
A
ideia por detrás da máxima das minhas amigas filósofas do interior é que, se
sua esposa mandar você pular do telhado, você deve apenas obedecer e rezar para
que o telhado não seja tão alto, porque, se você não obedecê-la e não pular, a
reação dela será muito pior do que a queda do telhado em si.
Qual
homem bem casado quer entrar em conflito com a mulher? Não apenas o resultado
será que ela “fechará as pernas pra ele”, como o dia a dia virará um combate
contínuo ao redor de coisas pequenas. E, por consequência, ele não conseguirá
trabalhar em paz.
A
máxima soa ingênua, mas é a pura verdade, se não quisermos mentir pura e
simplesmente. E a mentira, com o tempo, enche o saco de quem é capaz de
enxergar a realidade para além do mimimi que caracteriza muito do debate ao
redor do tema homem e mulher no mundo “especializado”, cheio de mulheres que
não conseguem ter homens felizes em obedecê-las.
O que
uma conversa singela como essa nos ensina acerca do Brasil que emerge das
eleições que estamos atravessando? O que é essa “guinada conservadora” que
parece varrer o país?
Muita gente no Brasil está cansada, por
exemplo, de ser levada a pensar que debates ao redor do fenômeno “trans” sejam
a pauta mais importante em termos de direitos humanos.
Antes
de tudo, a gente comum (que normalmente é casada e a mulher manda em casa, a
fim de que a janta seja servida todos os dias) cansou de sentir que sua
percepção de mundo é absurda, errada, reacionária, monstruosa, idiota ou cheia
de ódio.
Pelo contrário, muitas dessas pessoas
querem apenas que seus filhos voltem vivos da escola e não que gastemos tempo e
dinheiro com criminosos ou tristes vítimas de um passado ligado à ditadura.
Tudo isso é muito distante delas.
Os
boletos que pagam todo dia parecem mais fundamentais do que muitas das
discussões que os inteligentinhos levam a cabo na mídia, nas escolas, nas
universidades ou na “arte”.
As
redes sociais “libertaram” a ira do Brasil profundo que paga boletos diariamente
e que conhece homens que pulam felizes dos telhados há séculos.
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*Escritor
e ensaísta, autor de “Dez Mandamentos” e “Marketing Existencial”. É doutor em
filosofia pela USP.
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