Francisco
Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da ALERP e da APL - Academias de Letras de Picos e de Teresina.
O
novo livro do poeta Solon de Sousa tem nome esquisito:
“Carissimidades/
Poesia Cem”.
Somente os poetas entendem os poetas e, como prefaciador, não devo
explicar
nada à maioria dos leitores. Prefaciador não devo explicar nada a
ninguém, nem mesmo ao autor. O que o poeta diz ou escreve tem sua
linguagem cifrada em poesia e poesia não se explica. Lemos,
interpretamos como queremos ou podemos. Assim, ninguém perguntaria
ao poeta: - O que é que você quer com isto? Essa pergunta seria uma
ofensa a qualquer autor. E o prefácio significa uma apresentação
do livro, do seu autor, e tal como o prefaciador entendeu ser
necessário e bom para os leitores. Numa apresentação não se faz
críticas. Tece-se elogio ou não se faz. Como poderia recursar uma
apreciação à poesia de Solon, se já fiz o mesmo no primeiro
livro, que achei muito bom como estreia?
Feito
este exórdio, passemos ao que interessa. Já li o amigo José Solon
de Sousa em seu primeiro livro como disse. Depois li outro livro de
sua autoria, em prosa, denominado “Você
é meu orgulho”.
É um cidadão de caráter, probo e competente médico, natural de
Jaicós-PI. Mas hoje tem também endereço em Picos. Excelente amigo,
não tem apego a dinheiro, gosta muito de música e compõe
composições populares, estilo atualmente em vigor na mídia
brasileira. Como médico, conhece profundamente sua profissão. Na
literatura, o que ele deseja expressar é sua alma, por dispor de
tempo e por motivos vários de sua vida, o que não fez antes por
falta de espaço e tempo somente ocupados nos estudos e no trabalho.
Literatura serve também para isto. E isto ele o faz muito bem. Seus
ritmos são singulares, letras com rimas comuns, mas algumas vezes
aparecem metáforas não usuais. Assim, não somente o nome do livro
é esquisito: assim parece o autor e sua poesia. E qual o poeta que
não é esquisito?
É necessário que o leiamos
com cuidado, carinho e amor. O poeta merece.
Entretanto,
eu recomendaria aos leitores sobretudo os poemas curtos sobre
problemas humanos e científicas que, muitas vezes parecem
descritivos, mas se assim o são é por necessidade de um vocabulário
que nem todo leitor comum tem. Nem mesmo os poetas como este
prefaciador, que nada sabe de ciências. Outro tipo de poemas que
vejo com muito bons olhos são aqueles que tratam do campo, da roça,
das árvores, das lagoas e riachos e dos passarinhos, quando, com
alegria, o rancho de sua propriedade animam. Citarei o título de
alguns: “Histórias Viva”, “Andropausa”, “Amor amor”,
“Ainda bem”, “Voltarás” e “Viveiro, ”entre outros. Uns
biográficos, outros científicos (misturados com poesia em
contradições e metáforas) e os políticos. Não gosto de política
em poesia, porque a política da poesia é a forma, o ritmo, linguagem
figurada (que fica bem distante da linguagem comum). Mas daí vem a
contradição ao poeta: Como ser popular, sem o vocabulário do povo? Por que falar tanto no livro e no poeta e não mostrá-lo?
Eis
aqui um dos seus poemas que apresenta a maior originalidade, um modo
comum de os poetas começarem suas obras, dizendo a que vêm e como
são:
“Quem
vai querer? / Uma casa onde tem poesia /tem luxo. / Não que seja uma
casa cara / É uma casa caríssima. //Caríssimos poetas / Caríssima
é a poesia! / Carríssimas virtudes / Caríssimos colegas.// Uma
casa onde impera outras casas caras /Não tem luxo / Tem ostentação.
/ É uma casa cara. //Sem carissimidades…/ / Poesia Cem É a minha
cara! / Quem vai querer? // Sem forma / Sem estrutura / Sem endereço
// Sem id /Ou revide.// Sem pé/ Nem cabeça. /Sem Nada. // Contudo
// Isso // Ilhéu imaginário. //Em número // Ilhéu imaginário //
Em número de cem // Original / Estilo: // Solon Reis Jacob”.
É
seu estilo no livro todo, o qual explica sua poética, seu modo de
fazer. Observemos que já o grande poeta Fernando Pessoa
inventou vários poetas (heterônimos famosos) em si mesmo para poder
expressar bem o que era e o que podia não ser. O grande dramaturgo
inglês Shakespeare escreveu: “Eu
não sou quem eu pareço ser”. Por
essas palavras, sabe-se que a vida só não basta, precisa-se da
literatura, do teatro ou de outra arte que nos expresse. Quem
seriamos nós sem a palavra? Nos dias de hoje, nós, poetas,
nos
sentimos frustrados porque não somos considerados gente, porém
animais estranhos do tempo dos dinossauros, que foram resistindo, com
resiliência, alguns escapando pelo fio da música ou do teatro. Mas
nos conformamos em saber que a poesia vem primeiro, vem sempre e
chega sempre.
Voltando
um pouco à poética de Solon de Sousa, ninguém se espante porque
ele repete as palavras, brinca com elas. A repetição é um bom
recurso da poesia. Veja a música, repete-se e desrepete-se. O mesmo
truque da rima vem junto, completa. Não importa o descritivo para a
música ou para a poesia: o importante é que contenha mistério (ou
mistérios), pois somente nas almas eles são captáveis. Poesia é
alma, é espírito feito carne em palavras. Digo sem querer repetir
algo da Bíblia, todos somos a semelhança do espírito de Deus.
Solon, poeta, Deus o abençoe. Os poetas são deuses.
Parabéns, Solon! Parabéns,
Jaicós! Parabéns, Picos!
___________________
Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da ALERP e da APL, Academias de Letras de Picos e do Piauí, esta sediada em Teresina - PI
Nenhum comentário:
Postar um comentário