terça-feira, 28 de agosto de 2018

VIDA, LITERATURA E OBRAS - FRANCISCO MIGUEL DE MOURA


Francisco Miguel de Moura, 
Membro da Academia Piauiense de Letras.



            Em algum lugar, li ou ouvi de um acadêmico que seria simpático se todos os discursos acadêmicos começassem citando o patrono e ocupantes da sua cadeira. Concordando com a assertiva digo: o patrono da cadeira nº 8 é J. Coriolano (José Coriolano de Sousa Lima), de quem pretendo escrever uma biografia, se me houver tempo e saúde. Os ocupantes anteriores foram Antônio Chaves, Breno Pinheiro, Celso Pinheiro Filho e Francisco da Cunha e Silva. Dito isto, afirmo que minha vida literária começou com um poema que escrevi em papel embrulho, na loja de tecidos onde eu trabalhava, lá pelo começo dos anos 50, do século XX, no povoado Jenipapeiro. Mostrando-o a meu amigo Sebastião Nobre Guimarães, ele disse: “Se você consentir, vou levar seu poema para publicar no jornal “Flâmula”, dos estudantes do “Ginásio Marcos Parente”. O poema nominado de “Teu Valor” foi, de fato, publicado no jornal, e foi esse ocorrido que ocasionou minha mudança para Picos.
            O poema: “És filha de sangue azul, /Rainha de norte a sul / Princesa do meu torrão? É meigo o teu ar de riso, / Baloiçando o puro friso / Das belezas de um Éden. / Ai! me dói o coração / Ver a tua condição / Tão diferente da minha: / A tua mais se dilata,  A minha mais se definha! Ora sinto-me aprazer, /Na beleza do seu ser / Ora me sinto um ninguém. / De cobiça é meu viver, / É um triste vai-e-vem.
            Outros poemas seriam publicados no jornal dos estudantes e em outro de nome “A Gazeta”, editado pelo Odonel Castro Gonçalves, que estava concluindo o ginásio, que depois, segundo soube, foi embora para Fortaleza, onde continuaria seus estudos superiores. No Ginásio, tornei-me o primeiro aluno da turma e por isto não pagava a mensalidade. O “Ginásio Marcos Parente”, apesar de ser estadual, não era de graça: Os alunos tinham que entrar com sua contrapartida para poder sustentá-lo.
           Assim, com Ginásio de graças, com roupas e livros emprestados por meu parente e amigo Milton Portela Costa (que já ia para o segundo ano do curso), tive tempo para estudar e ler bastante, os poetas Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, J. G. de Araújo Jorge e Fernando Pessoa entre tantos outros da modernidade, porque os antigos eu já havia lido na escola de meu pai (onde fiz o primário) e na casa de meu avô, que tinha os principais românticos: Castro Alves, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu e Álvares de Azevedo, além do Príncipe dos Poetas Brasileiros, Olavo Bilac, o qual eu já lera nos livros da coleção “Coração de Criança”, adotados por meu pai, professor  na escola primária. Li também muita prosa de ficção: Humberto de Campos, Euclides da Cunha, Machado de Assis, José de Alencar, Visconde de Taunay (“Inocência”), livro que inicialmente me inspirou a escrever romances). Minhas leituras atravessavam o Atlântico e foram até Eça de Queirós, em Portugal, e aos romancistas franceses, que foram tantos.  Poesia, continuava fazendo, muitas foram para o cesto, algumas escaparam até publicar o primeiro livro “Areias”, em 1966, já morando e laborando em Teresina, vindo do interior da Bahia, cidade de Itambé, onde fui exercer o cargo de Chefe da Carteira Agrícola e Industrial do Banco do Brasil. Lá também li muito. Minha biblioteca era grande, sobretudo de poesia e de história do Brasil e história geral.
            A partir do terceiro ano do Ginásio, em Picos, em já havia entrado para o Banco do Brasil, no cargo de Auxiliar de Escriturário. Aí, então, não precisava ficar na casa do meu parente, Abraão Corado da Costa, pai do Milton Portela Costa: Fui para um hotel até casar-me com Maria Mécia Morais Araújo, que passou a acrescentar Moura ao nome, como de costume, e com quem tivemos 5 filhos: 2 em Picos, 2 na Bahia e 2 em Teresina: Franklin, Laudemiro, Miguel Jr., Fritz e Mecinha. Para acertar a conta, em Itambé-(BA) faleceu meu segundo filho, de nome Leônidas Fulton, motivo de um dos meus poemas daquele tempo, o qual, como o já citado, permanece inédito em livro que jamais publicarei. 
          Vamos ao poema: "Nascido em berço de flores, / sorveste em vida perfumes... / E aqui, na morte, amargores!... // Vida, vida passageira!... / Morte, morte traiçoeira! Teus golpes há quem descreva? // Lembro a dor que padeceste, / neste mundo, meu amor, / tua morte, tua dor. // Com suspiros, comoveste / quantos te ouviram, meu bem. / Cedo voaste pra  o Além. // És um anjo de Jesus: /- Na terra apagaste a treva, / No céu acendeste a luz".                      
            Trabalhando no Banco do Brasil, em Teresina, fiz a Faculdade de Filosofia e Letras, à noite, e ao mesmo tempo escrevia e publicava nos jornais. Assim, criei minha maior obra de crítica literária, “Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho”, editada no Rio de Janeiro (RJ) e distribuída, criticada e elogiada em todo o Brasil, inclusive passando a figurar no livro “História da Crítica no Brasil” do Prof. Wilson Martins – o grande crítico literário do Brasil.  De pois de “Areias”, minha estreia em 1966, com prefácio belíssimo de Fontes Ibiapina, fui publicando obras que, ao todo, são mais de 42 livros, se contarmos com as segundas edições de “Literatura do Piauí” e “Poesia (In)Completa”, respectivamente pela Universidade Federal e pela Academia Piauiense de Letras e mais ainda a recente “Minha História de Picos”, também edição da Universidade Federal do Piauí, que foi lançada na ALERP-Picos,  no Centro Cultural “Alaíde Marques”, em Jaicós (PI), e está sendo lançada, oficialmente, aqui. “Pedra em Sobressalto”, altamente elogiando pela escritora carioca Rejane Machado, entre outros críticos de igual valor e “Universo das Águas”, aprovado pelo grande poeta Carlos Drummond de Andrade, são os mais destacados de minha obra.
            Tudo isto e muito mais está em “Minha História de Picos”, onde conto, em forma de crônica. Acredito que faço uma renovação das narrativas portugueses da época trovadoresca, os quais se movimentavam em torno dos reis e das famosas obras apelidadas de “cavalaria” - em cujo ramo, até hoje, ninguém superou Miguel Cervantes, com o seu “Dom Quixote”, inaugurando o romance ocidental.  Mas chamo a atenção dos ouvintes, leitores e confrades, para a quantidade de nomes e sobrenomes de pessoas que cito, sem ser uma obra tipicamente genealógica. Calculado em cerca de 5.000 nomes de pessoas e famílias, material que me fez construir a obra, sem falar na emoção e no carinho com que dedico a essas pessoas.
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Discurso impronunciado no dia do lançamento do livro MINHA HISTÓRIA DE PICOS, na Academia Piauiense de Letras, em 25-8-2018. Francisco Miguel de Moura, poeta, critico literário, contista e romancista, mora em Teresina - Piauí.              

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