terça-feira, 26 de julho de 2022

 


VAIVÉNS: TEMPO E AMOR     

             

            Francisco Miguel de Moura 

   

             1

O que eu faria não fiz 

pelas linhas do passado,

torcendo as sinuosidades.                       

O futuro não me diz:

Voa com mil e tantas asas,

e passa e trespassa

e lava levemente a gente

da poeira dos olhos,

das juras renegadas.

 

Vivo a esquecer

os passos indistintos dos serões.

 

             2

 

Tento ser luz, aquela luz mais forte

que os teus olhos me entregaram

em vão, por tua ausência prolongada:

 

Luz, me acende! Não me cegues de vez!

E ela se apaga, deixando-me ir tão só

pelo único caminho do naufrágio.

              

               3

        

Nego o amor, aquele que me nega

em mil e um avisos de voz louca

enrouquecida: as paredes falam.

Afogarei entre guizos invisíveis

de portas sem reparos.  

 

No instante do pecado luminoso

os olhares se afogaram par em par.

 

E eu, morto, me arrependo

e resisto me abrasar.

_____________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

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