quarta-feira, 28 de setembro de 2022

 


J. P. UMA LEGENDA

 

    Francisco Miguel de Moura*

 

 

como no soneto viniciano

ouviu-se um tropel de repente

e a tarde que caía devagar

sumiu deixando o feijão duro na trempe

que ainda arde

 

foi dor de dente sem dentista

que  massacra e dá-nos  um “bom dia”

inclemente: adentrou-se na longa noite

 

e os já esperados naquela madrugada

bateram como se fossem

-  subversivos!

-  quem está? ou quem vem?

 

entraram e desarmaram os desarmado

e não levaram nada

só papel mais papel... e uma lista

 

depois a espera fora do tempo

depois a espera por dentro de si:

- “esconderam o comunista?”

 

para que pisaram à flor da terra?

nasceram cactus abriram-se feridas

 

cantando o hino da vitória

joão paulo se matou: “antes que me matem!”

e nada mais disse

 

mas lhe encheram os autos.

 

­______________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, sim senhor.

 

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